Em single, músico granjeiro celebra conexão com a natureza

Morador da Granja Viana e renomado pianista, compositor e arranjador, Beba Zanettini acaba de lançar o single "Que Me Leva", uma obra inspirada na beleza da natureza e na necessidade de preservar o planeta Terra. Em uma entrevista exclusiva, ele compartilha insights sobre sua carreira multifacetada e revela detalhes sobre o processo criativo do novo trabalho.

O músico granjeiro Beba Zanettini celebra o lançamento de seu mais recente single Que Me Leva com uma narrativa envolvente que transporta para a beleza do mar de Ubatuba em um dia chuvoso de verão. O músico revela que a composição foi fruto de uma profunda conexão com a natureza, uma reflexão sobre a importância de preservar a Terra e a consciência de que todos estamos unidos no mesmo barco.

“A inspiração veio da contemplação da visão cinematográfica do mar de Ubatuba em um dia de chuva de verão, no ano passado. Em um momento de conexão profunda com a natureza, a mata, a praia e o mar e a percepção da beleza que existe no planeta Terra. Beleza essa que, às vezes, passa desapercebida nas tantas solicitações do mundo atual. De forma subliminar, a música fala da importância de preservar a Terra e a constatação de que estamos todos no mesmo barco, unidos por conexões que desconhecemos e atravessam o tempo”, contou à nossa equipe.

O processo de criação foi espontâneo. Com sua sanfona, Beba deu vida à música e letra em uma única tacada, resultando em uma canção simples, uma ode ao verão. A escolha da nora Luíza Abe e de seu filho Rodrigo para as vozes, juntamente com a participação deste último no acordeão, adicionou um toque familiar à melodia. Agora, Que Me Leva está no ar, disponível para quem quiser ouvir.

Mas quem é Beba Zanettini? “Eu sou um músico brasileiro, pianista, compositor e professor, nascido em São Paulo. Casado com a Dôia, pai de dois filhos crescidos, o João e o Rodrigo. Morador há 23 anos da Granja Viana, torcedor do São Paulo Futebol Clube e metido a boleiro e esportista (risos). Filho do arquiteto Siegbert e da Maria Mônica, tenho um irmão e duas irmãs”, resume.

Formado na UNESP e pós-graduado em Canção Popular pela Faculdade Santa Marcelina, integrou os grupos de música instrumental Aquilo Del Nisso e Café Jam. Esteve ao lado de vários artistas em shows e gravações, como Alzira Espíndola, Vânia Bastos, Dominguinhos, Guinga e Eva Jagun. “Ter colaborado com artistas diversos e vivenciado situações musicais completamente diferentes me obrigou a tentar ser um músico melhor, com mais competências”, revela. Desde de 2018, vem trabalhando com o Beba Trio, ao lado dos músicos Gudino Miranda e Victor Kutlak.

Como descobriu a música? “Tive sorte”, responde, sem titubear. “Sem esforço, a música chegou até mim. Minha mãe era formada em piano e, desde muito menino, convivi com aquele modelo M.Schwartzmann na sala de nossa casa.  Paulistano, cresci no Itaim-Bibi, no final dos anos 1960 e me divertia numa rua de terra batida que terminava nos campos de várzea do Marítimo Futebol Clube. Apesar da iniciação musical em piano, a rua e o futebol eram mais sedutores. Um dia, apareceu uma bateria em casa e fiquei sabendo que meu pai tocava na sua juventude. Por isso, o piano e a bateria são os instrumentos com os quais tenho mais proximidade. O piano profissionalmente e a bateria pra curtir”, completa. E, coincidência ou não, um de seus filhos é pianista, enquanto o outro toca batera.

O primeiro disco que comprou foi o da trilha sonora de Burt Bacharach para o filme Lost Horizon (1973), The world is a circle. “Gosto dele até hoje e continuo achando que o mundo é um círculo sem um começo e ninguém sabe onde ele realmente termina. Nunca fui roqueiro, mas tinha que dizer para os meus amigos, da escola e da rua, que eu gostava das bandas que eles curtiam, se não pegava mal”, confessa. Ouvia música brasileira também como Chico Buarque, Tom Jobim, Milton Nascimento, João Gilberto, Caetano Veloso, Luiz Melodia, Djavan… E pirava, como mesmo diz, nos sons do Stevie Wonder e Earth, Wind & Fire, por exemplo. “Mais tarde, descobri o compositor norte-americano Donald Fagen, que foi da banda Steely Dan, e seu disco The Nightfly, de 1982, foi um marco para mim. Mudou tudo”, lembra.

Beba compôs sua primeira canção aos 13 anos, um baião que refletia a influência de Gilberto Gil. “Voltei a tocar piano com os bródi da escola e aí fui mordido definitivamente pelo bicho da música! Não parei mais”, recorda. A partir desse momento, ele mergulhou de cabeça na música, formando bandas com nomes tão criativos quanto o som que produziam, como O Leite da Viúva e Ilustres Visitantes.

“Quis me aprofundar e fui atrás de aulas com mestres, entre eles, Vera Pestana, Roberto Lazzarini, Felix Wagner, Hilton Gôgo, Zuleika Bastos, Ricardo Breim e a todos sou muito grato. Felix Wagner me apresentou o jazz e daí foi um pulo para música instrumental brasileira. Eu misturava. Ouvia Keith Jarret, Thelonius Monk, Duke Ellington, Egberto Gismonti, Hermeto Paschoal, César Camargo Mariano, Banda Black Rio e Weather Report. Em 1986, cheguei à universidade, a UNESP, para cursar Composição e Regência e daí tudo foi se encaminhando”, afirma.

Ele destaca a importância não apenas da formação técnica, mas também da convivência com colegas e mestres: “foi muito importante estar em um lugar onde se respira música noite e dia. Aprendi muito, especialmente com os mestres Edmundo Villani-Cortês, Hilton ‘Gogô’ Valente e Marisa Fonterrada. A convivência com os colegas foi essencial também. Ao lado do baterista Marcel Cangiani e do baixista Yoshiya Kusamura, formamos o UNESP Jazz Trio, que se apresentava no campus da universidade e nas festas estudantis. Foi o embrião do projeto Café Jam. Muito tempo depois, fiz a pós-graduação em Canção Popular, na Faculdade Santa Marcelina. As reflexões e vivências neste curso resultaram no meu segundo CD autoral, Canto da Areia, de 2017”, conta.

Já criou trilhas para teatro, circo e projetos multimídias, publicidade e vídeos institucionais. Quando questionado sobre o processo criativo ao compor para diferentes contextos em comparação com a criação de música autoral, ele afirma: “a composição de trilhas sonoras para teatro, cinema, circo, publicidade está a serviço de outras linguagens. Uma composição pode ser linda e inspirada, mas pode simplesmente não funcionar em cena. O diálogo com os parceiros artísticos é essencial e o compositor tem que se esforçar para traduzir, musicalmente, os anseios destes parceiros. Mesmo em um trabalho autoral, em que você tem total liberdade para compor, há a preocupação das músicas que compõe um álbum, por exemplo, estabelecerem uma conversa entre as faixas, na existência de um conceito que de certa maneira dê uma identidade ao trabalho”.

Beba Zanettini não se limita ao cenário nacional. Seu trabalho alcançou fronteiras internacionais, com lançamentos na Alemanha e apresentações nos Estados Unidos. Essa experiência global adicionou uma dimensão única à sua carreira, permitindo-lhe estabelecer diálogos enriquecedores com artistas de diversas nacionalidades. “A ideia de misturar a linguagem da música brasileira com outras influências e, assim, chegar a resultados inusitados é algo que me instiga. Canto da Areia é um exemplo disso: o álbum conta com as participações internacionais da cantora argentina Liliana Morales, da cantora tcheca Iva Bittová, da cantora alemã Eva Jagun e do baixista austríaco Manuel Zacek. Com Eva e Manu, a parceria acontece já há vários anos, em shows e gravações no Brasil e na Europa. Levar a música brasileira a outros países é uma experiência emocionante. O Beba Trio esteve recentemente excursionando por festivais e cidades de Portugal e Alemanha, com uma receptividade muito boa. Queremos voltar em breve”, diz.

Ao abordar suas inspirações, Beba destaca a diversidade de influências. Da música brasileira, passando pelo jazz, pop e música erudita, suas criações refletem a riqueza de experiências e emoções que a vida oferece. Encontra inspiração ainda nas pessoas, nas paisagens, nas tristezas, alegrias e, acima de tudo, na própria vida. “A música pode nascer de uma ideia também, ou por uma encomenda. E é claro, o piano, este instrumento maravilhoso, ele é sempre inspirador e muitas músicas nascem do meu convívio diário com ele”, afirma.

Da sala de aula ao palco: o professor músico e diretor musical

Beba Zanettini também é educador. Lecionou na FAAM-FMU, por vinte anos. Ele acredita que “ensinar é aprender duas vezes”, como afirmou o escritor francês Joseph Joubert, e esse lema se reflete em sua abordagem pedagógica. “Uma única metodologia não atende a todos os alunos e, de fato, acredito que um dos elementos cruciais para quem atua no ensino artístico é fomentar a criatividade dos estudantes. Nesse contexto, é essencial ser um professor criativo, capaz de se reinventar continuamente, proporcionando ferramentas e projetos que incentivem o desenvolvimento dos alunos. Deste modo, Arte e Educação se retroalimentam mutuamente”, defende.

O músico também deixou sua marca como diretor musical em diversos contextos, de espetáculos circenses a projetos pedagógicos. Sua atuação como diretor musical no Piccolo Circo Teatro de Variedades e em projetos como a Banda Nova Escola e bandas baile evidencia sua versatilidade e comprometimento com a diversidade de expressões artísticas. “Cada trabalho tem necessidades e objetivos específicos e todos demandaram muito trabalho na escolha de repertório, arranjos, arregimentação dos músicos, roteiro das apresentações, ensaios e shows. Mas com resultados muito gratificantes”, conta. Participou também de eventos como a Virada Cultural, SESCs e festivais em São Paulo.

Beba acredita que a música desempenha um papel fundamental na promoção da cultura e na construção de comunidades: “ela transcende barreiras, conectando pessoas de diversas origens e experiências por meio de uma linguagem universal”. Cita como exemplo inspirador o trabalho desenvolvido pelo Guaçatom, de Caucaia do Alto, grupo dirigido pela maestrina Isa Uehara, aqui em nossa região. “Este projeto não apenas ilustra o impacto positivo da música na vida dessas crianças, mas também destaca o potencial transformador da arte como meio de inclusão e crescimento em comunidades menos privilegiadas”, descreve.

Beba encerra a conversa refletindo sobre a importância da música para as pessoas. “Não consigo imaginar um mundo sem música, seria muito esquisito. A música é a identidade de um povo, diferentes gêneros e estilos refletem as tradições, valores e histórias de diversos grupos culturais ao redor do mundo. Ela tem o poder de unir as pessoas, nas festas, nos rituais, nos palcos. A música emociona, transporta as pessoas para lugares mágicos, é muito poderosa”, defende.

Projetos futuros

Beba Zanettini revela seus próximos passos. Sua carreira continuará nos pilares da música instrumental e da canção, com o Beba Trio prestes a gravar o segundo álbum. Um projeto de piano solo também se anuncia e aguarda o resultado de um edital. Outro, envolvendo peças didáticas para piano, está sendo aos poucos concebido. “Novas parcerias devem surgir”, adianta. Como educador, almeja seguir com as aulas de piano e quem sabe, em apoio com alguma instituição, conseguir oferecer vagas à crianças e jovens de pouca renda.

Com isso, Beba Zanettini firma seu lugar como artista e a celebração da diversidade, uma ode à conexão humana e um lembrete constante do poder transformador da música.

 

Por Juliana Martins Machado

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