Nicholas Negroponte é arquiteto, fundador e presidente emérito do Media Lab Massachusetts Institute of Tchnology, MIT. É autor do best-seller de 1995, Ser Digital, traduzido para mais de quarenta idiomas. Suas previsões sobre tecnologia surpreenderam o mundo, pois a maioria delas se realizou. Feitas na década de 80 ainda soam atuais. Deem uma googlada, pois vale a pena revê-las. Tive a satisfação de conhecer esse gênio pessoalmente no inicio dos anos 2000, por ocasião de uma visita ao Media Lab, MIT em Boston, EUA, onde fomos recebidos por ele. O Media Lab é um laboratório experimental cujo lema é “o futuro é para ser vivido”. Lá, pesquisa-se e vive-se o futuro da mídia e das tecnologias com experiências concretas. Os estúdios de experiências, estão anos luz à frente de qualquer ficção que você possa imaginar. O local é mágico e o cara é monstro. Dentre as suas previsões a que mais me marcou foi uma mais genérica: “Os gadgets (dispositivos eletrônicos de maneira geral) que iremos usar daqui a cinco anos, ainda não foram inventados”. Realmente, cada vez mais, a velocidade das mudanças é assustadora. Nos últimos 30 anos, tivemos mais mudanças que nos mais de 2.000 anos da era cristã. A lista é enorme de produtos/empresas que surgiram, revolucionaram o mercado e nossos hábitos, se expandiram alcançaram o sucesso e depois sumiram ou foram substituídas por outras mais inovadoras. Mas Negroponte e nem mesmo Nostradamus jamais conseguiriam prever as mudanças que viriam também nas áreas comportamentais. Além das mudanças tecnológicas, convivemos também com as mudanças impostas pelos novos Big Brothers e BigTechs, vulgo redes sociais e internet, pela nova linguagem e por minorias que lutam por seus espaços na sociedade. As novas gerações, os rotulados como geração Z, os transformadores do estabelecido, já nasceram nessa onda. Conectados desde o berço, mamaram no celular e nos lap tops e aprenderam o beabá da tecnologia. Já nasceram com elas e com um HD na cabeça, onde Uber, Kindle, Spotify, Waze, Whatssapp, Bluetooth, Streamings,SIRI, Chips, Bites, Robôs, Games, Carros elétricos/ autômatos, etc, fazem parte do seu cérebro naturalmente. Diferente dos millennials (nascidos na década de 80), que tinham outras características e experiências de vida. Viveram a era dos CDs, DVDs, carrões, máquinas fotográficas, livros etc, e na transição se adaptaram facilmente, mas não com a destreza dos mais novos que ainda nas fraldas rolavam as telas dos celulares com seus dedinhos. São os mais velhos os que mais sofrem. Nasceram em outra realidade e costumes. Um mundo mais raiz, atemporal, mais físico, mecânico e analógico. Com dificuldade, procuram se adaptar, mas não contam com a paciência e solidariedade dos mais jovens para ensinar a eles como lidar com o novo e com o digital. E vida que segue. Tudo é feito na base do “faça você mesmo, se não souber azar o seu”. Fico imaginando as pessoas, com dificuldade de conexão e sem conhecimento digital, os analfabites, tendo que conviver nessa onda. Presas fáceis para caírem em golpes digitais, fragilizados e desatualizados, até na linguagem passam a ter problemas com as palavras, que até ontem eram usuais e hoje são proibidas pela turma da lacração. Algumas empresas e escolas obrigam os funcionários/alunos a usarem a tal linguagem neutra e discriminam os que se recusam a usá-la. Nos EUA, alguns estados aboliram o ensino da escrita e adotaram o teclado. Empresas adotam critérios de contratação que nada tem a ver com competência ou experiência e excluem dos seus quadros alguns grupos de profissionais tradicionais, apenas para parecerem moderninhas. Nostradamus, Negroponte e os Jetsons teriam dificuldades para prever o futuro que se avizinha, quem se arrisca?
Por Marcos Sá, consultor de mídia impressa, com especialização em jornais, na Universidade de Stanford, Califórnia, EUA. Atualmente é diretor de Novos Negócios do Grupo RAC de Campinas