Nelson Luiz Schulz Filho é um cantor e compositor da região que vem trilhando o caminho musical desde os 16 anos, “expressando e sintetizando sentimentos em letras e melodias”, como ele mesmo define. Para Nell, seu nome artístico, a música é comunicação e identificação, e desde os primórdios da humanidade, é fundamental na construção do ser humano como um ser cultural. “Me esforço para que minha obra tenha relevância e que possa conversar com o universo interior das pessoas”, diz.

Ele, que é morador da Fazendinha – “é uma delícia morar aqui”, faz questão de dizer -, conta que sua paixão por música começou bem cedo. “Desde muito pequeno, quando tinha por volta de 5 anos, minha mãe dizia que eu cantava muito afinado e que tinha bons agudos. Eu brincava com coisas que pareciam microfones, fazia performances e divertia minha família. Conforme fui crescendo, essa aptidão foi ficando mais evidente e, inevitavelmente, segui para a carreira profissional”, lembra. “Comecei com 16 anos e, como muitos, tocando MPB em bares e restaurantes. Isso foi como uma escola para mim, no desenvolvimento de palco, postura e perda de timidez”, completa.
Seu gênero musical favorito é o folk (do inglês folklore, folk significa ‘gente’ ou ‘povo’, e lore significa ‘conhecimento’). “Gosto de compor assim também, mesclando com uma sonoridade meio celta”, explica. De onde vem as inspirações na hora de escrever e fazer as canções? “São variadas, me inspiro em tudo. Às vezes, desce como num processo mediúnico, vem sem avisar. Muitas vezes consigo finalizar uma música inteira em poucos minutos… é muito louco. Mas basicamente, todas as formas de relações humanas me inspiram”, responde.
Não sabe dizer qual seria sua música preferida: “a cada semana eu tenho uma”, brinca, “agora, eu diria que é California, de Joni Mitchell”. Já a lista de artistas que o inspira musicalmente é grande: Cat Stevens, Bob Dylan, Nick Drake, Pink Floyd, Yes, Genesis e REM. Dos brasileiros, Cazuza, Renato Russo, RPM, Arnaldo Antunes e Nando Reis.
Antes de partir para a carreira solo, Nell fez parte de duas bandas. “A primeira não tinha nem nome… e eu tinha 18 anos. Nessa, surgiu uma oportunidade de gravar um disco, mas além de não ter nome, também não tínhamos músicas”, ri. Segundo ele, era uma loucura: “mas para não perder a oportunidade, nós fazíamos as músicas no dia de gravar, e eu escrevia as letras minutos antes de cantar”. Apesar dos perrengues, afirma que foi uma experiência e tanto. “O resultado ficou superlegal, mas pena que não tenho mais, se perdeu”, lamenta.
Já a segunda banda era de rock clássico e chegou a tocar em muitos palcos pela Kiss Fm. Só saiu da banda porque queria se dedicar às composições. “É muito difícil encontrar sintonia para parcerias em composições e, como gosto de compor tudo, desde a melodia a letra, achei melhor me dedicar à carreira solo”, explica.
Em 2009, lançou o primeiro álbum autoral, totalmente independente e em inglês, o By Myself. “Ter feito esse álbum foi uma experiência muito legal, já que faço releituras das décadas de 60 e 70. Interpreto artistas como Cat Stevens, Bob Dylan, Don Mclean, entre outros. O álbum foi inspirado nisso. Cantava canções desses artistas e gostava muito da estética, daí comecei a compor com essa inspiração. O resultado ficou bom, tocava minhas canções no meio das apresentações, as quais, invariavelmente, tinham uma faixa etária acima dos 40 anos. O público reagiu bem e pediam pelo disco. Gravei na intenção de atender essa pequena demanda, mas o projeto cresceu mais, daí tivemos outras perspectivas”, comenta. Rapidamente, foram vendidas as primeiras mil cópias e, em 2011, ele fez uma nova versão desse trabalho, com uma música a mais e uma nova capa.
Em 2012, Nell esteve na Festa Nacional da Música Brasileira que acontece todo o ano em Canela, no Rio Grande do Sul, o momento mais marcante de sua carreira segundo ele. “Lá, pude conhecer pessoalmente artistas incríveis, como o João Bosco, Fagner, Sérgio Reis, Golden Boys… Pude tocar no mesmo palco que eles, e ainda ser aplaudido por uma plateia de grandes artistas”, comemora.
Depois dessa oportunidade, vieram os álbuns Café, torradas e melindres, Andrômeda e, por último, o Caixinha de música. “Fiz esse álbum para a Laura dormir, são minhas músicas em versões de caixinha de música, bem lúdico e bonitinho”, descreve. “A ideia surgiu inspirada na filha caçula, mas agora está tomando outras proporções e, com certeza, vai ajudar muitas crianças”, comemora.
E ele tem mesmo todos os motivos para celebrar: com o álbum, surgiu a campanha Quer ajudar? Dá um play! em prol do GRAACC, referência no tratamento do câncer infanto-juvenil e que tem uma taxa aproximada de cura de 70%. “O hospital faz um trabalho maravilhoso e toda ajuda é necessária. Vejo esse projeto como uma oportunidade de transformar um simples gesto em doação, ou seja, um simples ‘play’ se transforma em doação. Quanto mais tocar, mais vai ajudar”, explica. É simples, basta acessar www.caixinhademusica.net e ouvir (para gerar os royalties, é preciso estar logado no Spotify e ouvir mais que 30 segundos de cada canção). “O álbum tem duração de 10 minutos. 10 minutos solidários do seu dia. Vai muito bem para colocar o neném para dormir e deixar tocando a noite toda”, comenta. Metade dos royalties que as plataformas de música pagam irá para o GRAACC.
Nell já adianta que, em breve, a campanha deve crescer, outras instituições farão parte e novos álbuns serão lançados. “Vi minha filha crescer e se desenvolver, e acredito que toda criança merece todas as oportunidades de um pleno e sadio desenvolvimento”, afirma.
Sonho? “Tocar para uma plateia 100% minha, onde todos soubessem minhas canções. Eu chego lá”, responde. E com quem gostaria de trabalhar? “Com o Dado Villa Lobos, ex Legião Urbana. Admiro muito sua musicalidade”, diz.
Quando questionado se é possível viver de música no Brasil, Nell dispara: “com certeza! Exige jogo de cintura, como tudo na vida. Agora, no mercado digital, acredito que o artista precisa entender um pouco de marketing, anúncios… gestão de tráfego, de modo geral. Qualquer artista que tenha um trabalho sólido e alguma estratégia de divulgação, consegue alcançar novos públicos e converter esse público em fãs consumidores”.
Para encerrar, qual será a relação de Nell com a música? Seus olhos chegam a brilhar, quando se prepara para responder à pergunta. “É a mais bonita e sincera possível. Sou espiritualista, creio na força e no poder da música! Ela é capaz de coisas inimagináveis, tem um poder maravilhoso, de transformar e até mudar padrões vibratórios. É matemática, energia e vibração. Minha relação com a música vai muito além de ‘fazer carreira e ganhar dinheiro’, pois a considero como um veículo que pode carregar vibrações salutares e chegar diretamente ao coração das pessoas, e isso pra mim é muito sério”, finaliza.
Por Juliana Martins Machado