Foram 2200 kms rodados, sendo que somente 200 kms de estrada de asfalto.
Fizemos esta viagem para a Namíbia numa modalidade “self-drive”, onde uma agência turística local organiza toda a logística, porém viajamos por conta própria.
O país tem uma densidade demográfica baixíssima, e por centenas de quilômetros a viagem é feita sem cruzar sequer uma pessoa ou casa, que possa nos apoiar em caso de necessidade.
Queríamos então, ter um “back up” caso ocorresse algum imprevisto.
A empresa de aluguel do 4×4 tem um “tracker” no carro. Então, se o carro ficar parado por mais de 4 horas no meio do nada, eles saem em socorro…
Como o sinal de internet ou telefone desaparece em muitos lugares, a agencia de turismo fornece um mapa super detalhado das estradas do país para podermos nos orientar.
São inúmeras saidinhas que estão relativamente bem sinalizadas, mas há que ficar bem atento ao mapa.
Fomos orientados também a sempre carregar agua e comida dentro do carro, caso haja alguma pane.
A maior parte dos problemas são relacionados aos pneus, porque as estradas são em alguns lugares sofríveis, e em outros há que se baixar um pouco o ar dos pneus para trafegar com segurança em caminhos mais arenosos.
O pais tem uma área de deserto enorme. As estradas são largas, planas, mas de pedrisco na maior parte, o que faz com que o carro dance muito, então, é prudente que não se passe de 80 kms/hora.
Eu procurava não ficar de olho no celular, para acompanhar onde haveria sinal de internet ou não; para não ficar nervosa, pois a sensação de isolamento é muito grande e o medo de ficar parada num fim de mundo qualquer é real.
Em muito a Namíbia lembra a África do Sul, em termos populacionais e culturais, uma vez que partes do país já pertenceram à África do Sul em algum momento da história.
A população é majoritariamente negra, e os brancos vieram dos “países baixos”.
A língua oficial é o inglês, os brancos falam africâner e os negros majoritariamente zulu.
O país é limpo e seguro.
Windhoek, a capital lembra uma cidadezinha do interior, de tão pequena, e não vimos nenhum edifício com mais de 10 andares.
A comida da maioria branca lembra a europeia com a presença de muitos embutidos, inclusive de caça, como antílopes etc. Os negros tem uma alimentação também voltada à carne e uma espécie de mingau endurecido que eles chamam de “pop”.
Verduras…nem pensar. E frutas, muito escassas também.
Como meu interesse nesta viagem não era ver a vida selvagem, e sim as paisagens desérticas, nós optamos por não visitar o Parque Nacional Etosha, no norte do país. Privilegiamos a visita da costa e dos desertos de Kalahari, Damarland e a Costa do Esqueleto.
Fomos inicialmente em direção ao sul do país para a principal atração turística, Sossusvlei, no deserto de Kalahari.
Esta é uma região lindíssima com a maiores dunas de areia do mundo, chegando a ter até 400ms de altura.
Como chegamos no parque por volta das 10:00 da manhã, o calor de 40 graus já estava insuportável, o que inviabilizou a subida na famosa duna 45, nos dirigimos então ao belíssimo Deadvlei, que é uma bacia arenosa no meio das dunas onde permanecem intactas algumas acácias de 900 anos e praticamente petrificadas dando ao local um contraste maravilhoso de dunas vermelhas, areia branca e as acácias negras.
Terminada a visita, nos dirigimos à costa chegando em Swakopmund, que é a segunda maior cidade do país.
Ela foi colonizada por alemães e pertenceu a este pais por algum tempo, então na cidade só se fala alemão e a arquitetura lembra bastante a alemã.
Em função da corrente marítima muito fria que passa pela região, o mar é riquíssimo, sendo que a pesca é a segunda maior fonte de renda do país.
Comemos frutos do mar e peixes deliciosos.
Mas, este mesmo clima tão particular faz com que a costa seja relativamente fria e pela manhã sempre com uma neblina forte, mas que se dissipa durante o dia.
Então, é muito interessante a saída do deserto de 40 graus e a poucos quilômetros da costa a temperatura abaixa para 17 graus.
Fizemos um passeio guiado para Sandwich Harbour, onde as altíssimas dunas do deserto encontram o mar formando uma paisagem ímpar.
A caminho de Sandwich Harbour passamos por uma imensa fábrica de sal. Grandes áreas são preenchidas com agua do mar, e a medida que ela vai evaporando cresce um tipo de alga que colore as lagoas de um rosa belíssimo.
Outro passeio muito interessante foi um tour marítimo para visitar as colônias de focas ao longo da costa em Walvis Bay. Com tanta oferta de comida e ausência de predadores existem milhares de focas, flamingos, albatrozes e pelicanos.
Num primeiro momento, a agencia de turismo nos desencorajou a percorrer a Costa do Esqueleto em direção ao norte do pais, referindo não terem informações acuradas das condições da estrada e que devido ao isolamento seria algo arriscado.
Fiquei bastante decepcionada pois este era o local que mais queria conhecer…
Felizmente, em contato com o guia que nos acompanhou na visita à Sandwich Harbour ele nos assegurou que seria possível a viagem e que seria linda e bem aventurosa. E muito mais interessante do que irmos para o norte pelo interior do país, como sugerido pela agencia.
A costa do esqueleto, foi o lugar mais isolado que já visitei na vida. O terreno é de terra, areia e sal batido e neste sentido mais fácil de dirigir que o resto pedregoso do país.
Na entrada do parque eles anotam a placa do carro, e dados pessoais que depois é checado na saída do parque centenas de quilômetros a frente.
A paisagem é esplendorosa, numa variação de terrenos com dunas, savanas e pedras, em paralelo a um mar selvagem com alguns barcos encalhados na areia para dar um ar mais fantasmagórico ainda.
No mapa que carregávamos mostrava alguns pontos de apoio pelo caminho, mas, à medida que chegávamos neles na verdade eram núcleos fantasmas sem uma única pessoa para nos atender.
Foi maravilhoso, mas confesso ter sentido um certo alivio ao sair do parque depois de quase 500 quilômetros onde cruzamos com no máximo 3 carros.
Ao fim desta extensa jornada chegamos a um dos hotéis mais lindos que já estivemos. Numa localização privilegiada no deserto, o hotel esta incrustado numa montanha de pedras que se mescla com a paisagem ao redor.
No portal de entrada passa-se por petroglifos de 5000 anos de idade, que esta bem protegido do acesso aos hospedes para não danifica-los.
Este é o deserto de Damarland e região da etnia Damard.
Visitamos um “living museum” onde os locais demonstram como seus antepassados viviam e celebravam as festividades.
Estar nesta região, visitando um parque de petroglifos, e em contato com esta etnia, nesta paisagem árida e única, me deu uma proximidade com esta nossa ancestralidade humana que nunca tinha sentido anteriormente. Foi realmente mágico.
Nossa última parada foi num hotel dentro de uma reserva privada de 40.000m2. Fizemos um safari supreendentemente bonito onde nos aproximamos a poucos metros de uma ninhada de leões e mais outros tantos animais.
O susto/aventura ficou para o último trecho da viagem, que por um descuido nosso, uma vez que estávamos sem sinal de internet, acabei perdendo uma saída para uma das inúmeras micro estradas isoladas da região. E, após vários quilômetros sem chegar a lugar algum, nos demos conta que estávamos perdidos…
Felizmente demos de encontro com a entrada de uma outra reserva particular, onde o funcionário, após deixar a metralhadora de lado, veio até nós e solicitamente explicou como voltarmos ao trajeto inicial.
Este desvio acabou sendo muito especial pois cruzamos a reserva sozinhos, passando por vários animais selvagens e num terreno bastante arenoso.
Mas, foi bom chegar no asfalto!
A Namíbia se apresentou muito acima de nossas expectativas.
E, mais uma vez, a certeza de que não devemos desistir de uma viagem por falta de informações previas que nos de total segurança. Uma pesquisa criteriosa e a confiança no ser humano faz tudo possível.
Debora Patlajan Marcolin, médica, muito curiosa com relação a diversidade cultural do nosso planeta: “viajo desde que me conheço por gente e tudo me atrai. Desde a minha vizinhança pobre de Carapicuiba até as cerimonias fúnebres de Tana Toraja na Indonésia, passando por paraísos naturais como o pantanal mato-grossense e deserto do Jalapão. Já conheci por volta de 75 países e não paro de projetar novos destinos. Entendo que para se viajar é preciso estar de peito aberto e abandonar todo tipo de preconcepção, que com certeza, a viagem vai te provocar profundas mudanças internas e gosto pela vida”. Autora do blog A Minha Viagem.