Com um sorriso acolhedor, fala serena e gestos discretos, o padre Antônio Sagrado Bogaz, pároco da Paróquia Santo Antônio da Granja Viana, carrega consigo uma grandeza que se revela na simplicidade. Poliglota, professor, doutor em Filosofia e Liturgia, escritor de dezenas de livros e roteirista de filmes católicos, ele se define com uma humildade desconcertante: “Minha história é muito parecida com a de tantas crianças e jovens que passaram pela minha vida.”
Aos que o veem de perto, Padre Bogaz é mais do que um sacerdote: é um formador de consciências, construtor de comunidades, semeador de fé e cultura. Seu carisma, porém, não reside no brilho das conquistas acadêmicas — embora estas sejam impressionantes —, mas na forma gentil com que conduz sua missão pastoral, no diálogo verdadeiro com o próximo e na firmeza serena com que defende valores que considera inegociáveis: fé, verdade, caridade e paz.
O menino de Tabajara e o chamado de Deus
Natural do pequeno vilarejo de Tabajara, no interior de São Paulo, Padre Antônio cresceu em uma família profundamente religiosa – que leva o Sagrado no sobrenome, formada por dez irmãos e devota das práticas de fé — do rosário às peregrinações. Foi nesse lar que nasceu sua vocação. “A Providência Divina me acompanha desde sempre”, diz ele, que entrou ainda jovem no seminário dos padres de São Luís Orione. Dali herdou o carisma que o move: amor à Igreja e aos pobres, sobretudo os mais vulneráveis.
Entre o altar e a cátedra
Sacerdote há mais de três décadas, ele é também uma referência no ensino superior. Leciona há cerca de 40 anos nas áreas de Filosofia e Teologia, com especialização em Patrística e Liturgia — disciplinas essenciais na formação de novos padres. Suas aulas são ministradas em importantes instituições como o ITESP e a Faculdade de Teologia São Bento. “Celebrar a missa e ministrar aulas são minhas duas grandes paixões”, confessa com a tranquilidade de quem vive aquilo que prega.
Poliglota e missionário da palavra
Domínio de idiomas é outro dom que o acompanha. Fala inglês, espanhol, francês, italiano e alemão. Também estudou Russo, mas não tem fluência por falta de prática. Lê latim e grego, fundamentais para os estudos teológicos. “As línguas servem para evangelizar melhor, especialmente numa região como a Granja Viana, onde há tantos estrangeiros”, explica.
Evangelizar com imagens: cinema e literatura
Padre Antônio também evangeliza pelas artes. Em parceria com o professor João Hansen, Nanci Bissoli e Janaina Zanfelice, já realizou cerca de 15 longas-metragens, todos feitos em mutirão, com voluntários da comunidade, sem nenhum custo. “Os filmes são feitos por nós, para servir à evangelização, e estão disponíveis gratuitamente no YouTube”, conta. Cada produção envolve cerca de 300 pessoas. Além disso, já publicou cerca de 40 livros, entre obras teológicas, romances e poesias. Um de seus orgulhos é o Dicionário de Teologia Patrística. Entre os romances, destaca-se Recomeços acontecem a cada amanhecer — um título que resume bem seu espírito esperançoso e humano.
A volta à Granja Viana: um reencontro com a comunidade
Pela segunda vez na Paróquia Santo Antônio da Granja Viana, para onde retornou em 2023, ele diz se sentir em casa: “Tenho recebido muito mais do que ofereço. A comunidade me dá alegria, espiritualidade e realizações”. E a retribuição vem na forma de ações concretas: fortalecimento da catequese (que mais que dobrou o número de crianças), formação de grupos de jovens, visitas aos doentes, celebrações marcantes e diversas ações sociais.
Entre os projetos mais marcantes, destacam-se o Natal Solidário, que assiste cerca de 150 famílias com presentes e cestas natalinas, e o Oratório Festivo, que acolhe crianças e idosos em atividades de lazer e oração. A festa junina da paróquia, por sua vez, é hoje o maior evento religioso de Cotia — e o segundo mais importante da cidade —, reunindo cerca de 250 voluntários e cuja renda será revertida para a construção da nova igreja na Comunidade Nossa Senhora Aparecida, no Jardim Barbacena.
Um líder espiritual de alma aberta
Apesar dos títulos, das conquistas e dos reconhecimentos, Padre Bogaz permanece fiel à simplicidade que o caracteriza desde os tempos de Tabajara. Sua liderança não é autoritária, mas inspiradora. Seu amor pela comunidade é notório. Sua fé, vivida com coerência e alegria. Quando fala do Papa Francisco, com quem teve a oportunidade de estar pessoalmente, a ternura em sua voz resume seu jeito de ser: “O sorriso de menino, a simplicidade nas vestes e nas palavras de Francisco… tocaram o coração de todos”.
Ao final de nossa conversa, perguntamos que mensagem ele deixaria aos leitores. Após refletir, respondeu com a firmeza suave de quem vê longe:
“Sejam verdadeiros, dialogantes. Não se deixem cooptar por ideologias tendenciosas que dividem. Vamos ser diferentes. Vamos ser simples, humanos e bondosos.”
E assim é Padre Antônio Bogaz: um líder espiritual que transforma com a fé, ensina com a sabedoria e encanta com a humildade. Um homem para quem viver o Evangelho é, antes de tudo, viver com o povo — e por ele. Um sacerdote que antes de finalizar suas palavras ainda se lembrou de nos abençoar:
“Que maravilha poder falar com essa Revista Circuito. Um grande bem para a nossa comunidade. Paz e que Deus cuide de nós e nós cuidemos uns dos outros.”
Por Mônica Krausz
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