Em tempos de Whatsapp, lives e outras formas de comunicação instantânea parece incrível pensar que alguém ainda crie pombos correio, mas o número de columbófilos – nome dado as criadores destes pássaros – ainda é grande em todo o mundo.

E não é que temos um representante deste grupo na nossa região?  Luciano Santos, de 44 anos, cria pombos correio desde os 7 anos de idade, quando ganhou o primeiro casal de pombos de um amigo da família, em Ribeirão Preto. A princípio, os pombos eram criados como animais de estimação no sítio do irmão mais velho, já que Luciano morava com os pais em um apartamento.

Assim que Luciano conseguiu ter sua própria casa, começou a criar pombos para competição. Passou a criar atletas de asas!

Sim, diferente do que se apresenta no imaginário popular, de que os pombos correio levam mensagens de amor no bico, como na música Pombo Correio, de Moraes Moreira, os pombos correio, no passado foram muito usados nas guerras e levavam mensagens dos soldados em campos de batalha para suas bases. Mensagens amarradas nos pés e não no bico.

Hoje, seus criadores não mandam mais mensagem, mas criam seus pompos para competir em provas de curta, média e longa distância. Em algumas provas os pombos voam mais de 1000 kms para chegar ao seu destino.

E qual é o seu destino? Suas casas! Na verdade, os pombos não vão, eles voltam. Sempre voltam para casa, se não forem abatidos por um predador como um gavião ou presos por um homem em uma gaiola.

Voltam para o local onde nasceram ou onde voaram pela primeira vez.

Todos os dias Luciano solta quase todos os seus 97 pombos no condomínio onde mora, na divisa de Cotia com Itapevi. Eles voam por cerca de duas horas e quando são chamados com um assobio, voltam para seu pombal e para seus poleiros preferidos.

“Aqui em casa eu tenho uma bandeira que, enquanto está hasteada, eles não descem para o poleiro. Quando eu abaixo a bandeira e assobio, eles começam a descer e entrar no pombal”, conta. Outros criadores usam apitos como sinal para a volta.

Quando descem os pombos encontram o alimento e água que fica a sua disposição por cerca de 20 minutos. Depois o alimento é retirado e por isso, assim que são chamados eles descem para não perder a refeição do dia.

Morador do Condomínio Vila Verde há 3 anos, Luciano conta que antes vivia no Morumbi e por isso, ainda hoje, alguns de seus pombos, quando são soltos, voltam para a sua antiga casa no Morumbi e como não encontram mais seu pombal ali, voltam para o seu segundo endereço, em seguida.

Para mudar seu pombal de endereço ele precisou contratar um caminhão com guindaste. O seu pombal é do tamanho de um container!

“Eu só fui começar a participar de competições quando me mudei pra cá, há 3 anos”, conta. O condomínio onde vive tem muita mata nativa e é um local aconchegante para o voo diário de seus pombos. Só não é melhor porque também tem muitos gaviões, que sempre representam um risco.

Luciano conta que nos campeonatos, a primeira prova é sempre em Santa Rita do Passa Quatro, a 270 km de São Paulo, mas há provas como a de Brasília, onde os pombos precisam voar mais de 1000 kms para voltar pra casa. As aves são levadas para o local onde serão soltas por um caminhão da Federação Brasileira de Columbofilia.

“Todos os pombos levam na patinha, uma anilha, com um registro de nascimento da ave “, explica Luciano. “O pombo ganha essa anilha com 6 dias de vida”, diz. Na outra pata os pombos levam um chip eletrônico, que registra a sua entrada no caminhão da Federação e a sua chegada em casa após a competição.

“Chegando na minha casa, quando o pompo entra no pombal, há um outro equipamento com relógio e leitora, que registra a sua entrada em hora, minutos e segundos que o pombo chegou”, conta.

A leitura dos chips de todos os pombos, ao final da prova, é que vai mostrar quais deles voaram mais rápido para seus lares.

O horário da provável chegada dos pombos é um tempo de muita angústia para os criadores. “A gente fica com dor no pescoço de tanto olhar para o céu”, conta Luciano.

Ele explica que cada criador pode enviar 25 pombos para a competição, mas na verdade, todos mandam mais pombos pois os mesmos gostam de voar em grandes bandos. “Só 25 vão pontuar, mas eu mando quase todos os meus para as competições”, conta.

No caminhão, os pombos de diversos criadores são misturados em diversos compartimentos. No ponto de soltura, são todos soltos ao mesmo tempo em uma grande revoada, mas cada pombo vai voltar para a sua casa em diferentes cidades ou Estados, então, em um determinado momento, os bandos originais se reúnem para voltar juntos pra casa.

Como os pombos se localizam?

Segundo Luciano, há várias teorias sobre essa forma de localização, mas nada conclusivo. A teoria na qual ele mais acredita da conta de que o pombo correio tem uma espécie de localizador em sua carúncula, uma protuberância que têm sobre o bico. No caso dos pombos correio, essa carúncula é maior do que nos outros pombos e em algumas experiências, quando colocaram um imã preso a esta carúmcula, eles ficaram totalmente desnorteados. “Alguns acreditam que essa carúncula é que lhe dá a capacidade de ler o magnetismo da terra e se localizar por meio disso”, explica. Outra teoria aposta que a questão é visual, por meio do posicionamento do sol, já que em dias de prova com tempo nublado, fechado há maior perda de pombos. Outros ainda apostam no olfato da ave.

As competições

São oito provas durante o ano. “Nestas provas a gente sempre tem algumas perdas porque alguns pombos são abatidos por gaviões ou presos em gaiolas por outros criadores”, conta. Segundo ele, alguns criadores não muito corretos, prendem pombos visitantes para acasalarem com suas pombas. “Alguns ficam desaparecidos por três ou quatro meses e um belo dia voltam pra casa porque foram soltos”, observa.

Felizmente, segundo Luciano, os melhores pombos sempre voltam e sempre chegam na frente. Segundo ele, em um pombal, é fácil identificar aqueles que estão em melhor forma física. São os que escolhem os poleiros mais altos. Aliás, segundo Luciano, o cheiro do pombal também é um atrativo para os pombos correiro. “Você, provavelmente nunca deve ter recebido um pombo correio na sua casa, mas aqui eu recebo muitos, não só os meus. Eles descem aqui poque sentem cheiro do pombal”, explica. “Quando recebo um pombo que não é meu, o correto é verificar o número da anilha e comunicar nos grupos de criadores”.

Segundo Luciano, assim como muitas outras aves os pombos são monogâmicos e fiéis. Se puderem escolher sempre acasalam com o mesmo parceiro. Só acasalam com outro se forem presos com outro parceiro em tempo de acasalamento. A cada acasalamento geram cerca de dois filhotes e se revezam tanto para chocar como para alimentar os filhotes.

No ano passado, um dos pombos de Luciano ganhou a Anilha de Prata no Campeonato Brasileiro. Isso significa que seu pombo pegou um segundo lugar em três provas. Na de categoria de velocidade em prova de 500 Km, nas provas de fundo, que vão de 500 a 1000kms e na prova geral que conta os pontos de todas as oito competições do ano.

Cuidados

Todos os pompos são vacinados, vermifugados, têm dieta totalmente balanceada com 18 tipos de grãos, cada dia um tipo de alimentação diferente, com vitaminas importadas. Tomam banho duas vezes por semana! “Eu gasto de R$ 300 a 400,00 por mês com eles”, conta.

Luciano tem a sorte de contar com o apoio da esposa e do filho na criação de suas aves. “Eles me ajudam bastante”, conta. Em época de férias um vizinho também dá uma grande força, caso contrário não seria possível viajar já que os pombos exigem muitos cuidados.

Relembrando
Em agosto de 2000, trouxemos a matéria “Atletas do Céu” e entrevistamos William Mazza que, há 34 anos até então, criava pombos-correio para competição. Na época, era comum notar na Fazendinha dezenas de pombos em treinamento sobrevoando uma certa casa de telhado verde.

Serviços
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Por Mônica Krausz

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