Milenna Saraiva escreve sobre a arte de Georgina de Albuquerque

Considerada uma das primeiras mulheres brasileiras a conseguir firmar-se internacionalmente como artista, Georgina foi também pioneira na pintura histórica nacional. Nossa colunista Milenna Saraiva escreve sobre ela: "além da pintura histórica, a obra de Georgina também apresenta telas de natureza morta, nus artísticos, retratos, cenas do cotidiano, bem como paisagens urbanas, provincianas e marinhas".

Muitas artistas brasileiras alcançaram fama internacional no mundo das artes plásticas. Mas, para cada uma das que furaram o teto de vidro imposto às mulheres nesta área, há um exército de outras que permaneceram invisíveis.

Existiriam artistas mulheres incríveis no século XIX. Mas por que sabemos tão pouco sobre elas? No Brasil, tudo o que se produziu antes da Semana de Arte Moderna de 1922 tende a ser visto como “menor”, “pouco nacional”; em outras palavras, uma cópia do que chegava da Europa. Além disso e apesar da presença esporádica de mulheres na Escola Nacional de Belas Artes, do Rio de Janeiro – praticamente, única instituição existente para o estudo da matéria na virada do século XIX – elas eram consideradas eternamente amadoras e preteridas nos prêmios e salões.

Georgina Moura Andrade de Albuquerque é uma dessas artistas que foram injustamente quase esquecidas pela história. Nasceu em Taubaté, São Paulo, dia 4 de fevereiro de 1885. Iniciou os estudos em pintura aos 15 anos, em 1900, sob a tutela do pintor italiano Rosalbino Santoro, que vivia em sua casa. Em 1904, aos 19 anos, mudou-se para a cidade do Rio de Janeiro. Na capital fluminense, ela ingressou na Escola Nacional de Belas Artes. Em março de 1906, Georgina casou-se com o pintor piauiense Lucílio de Albuquerque, que ela havia conhecido na Escola Nacional de Belas Artes. Lucílio foi à França, acompanhado da esposa, para estudar. Georgina completaria sua formação artística frequentando a École Nationale Supérieure des Beaux-Arts e as aulas livres da Academia Julian. Ela se tornou a primeira mulher brasileira a ter sucesso nas rígidas avaliações de ingresso da Escola Nacional de Belas Artes francesa. Durante sua estadia na Europa, a artista foi fortemente influenciada pelas técnicas impressionistas. Ela e o marido permaneceram por cinco anos em viagem de aprendizado na França antes de retornarem ao Brasil.  Ela faleceu no Rio de Janeiro, em 1962, aos 77 anos.

VAMOS OBSERVAR
Artista: Georgina de Albuquerque
Criação: 1922
Dimensões: 210 cm × 265 cm
Técnica: Tinta a óleo
Localização: Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil

A obra Sessão do Conselho de Estado é considerada uma das mais emblemáticas de Georgina. Pintado a partir da técnica óleo sobre tela, o quadro foi encomendado em função do edital de Comissão Executiva do Centenário, em comemoração aos 100 anos de proclamação da Independência do Brasil. A obra foi exposta pela primeira vez como parte da Exposição de Arte Contemporânea e Arte Retrospectiva do Centenário da Independência, inaugurada em 12 de novembro de 1922.  Atualmente, encontra-se no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro.

Georgina provocou uma verdadeira revolução na pictografia brasileira ao retratar um momento – provavelmente muito mais realista – do processo de independência do país que em nada recorda a triunfal caracterização de Pedro I com a espada às margens do rio Ipiranga. Na cena, a mulher dele, a futura imperatriz Leopoldina, ocupa o centro da narrativa e ouve conselhos de ministros e parlamentares (todos homens, naturalmente).

O tema do quadro também é uma declaração de intenções em si.  Apesar de aceitas, paulatinamente, nos círculos de criação, às mulheres se reservavam temas menos “nobres”, como cenas domésticas e íntimas.

As pinturas de Georgina de Albuquerque trazem, como parâmetro, as técnicas do Impressionismo e suas derivações. Isso se manifesta na escolha das paletas de cores, as quais são exploradas por meio das incidências luminosas e da vibração cromática do quadro. As obras da pintora paulista radicada na capital fluminense também são reconhecidas pelo tratamento da cor e pelo domínio do desenho da figura humana.

Georgina foi uma artista excepcional! É preciso ressaltar a importância desta artista no panorama pictórico brasileiro, pois sua história e carreira são magníficas e não podem ser deixadas para trás, esquecidas pelo tempo.


Por Milenna Saraiva, artista plástica e galerista, formada pelo Santa Monica College, em Los Angeles.

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