A brisa marinha continua a soprar e a paisagem caribenha, com praia de areia branca e água turquesa, ainda encanta os olhos. Estaria tudo igual a antes, se não fosse por um detalhe: a pandemia. Como consequência, a Flórida que, outrora em pleno verão estaria cheia de turistas, vê menos pessoas circulando, até mesmo moradores.
As principais praias estão liberadas, desde que se respeite o distanciamento social, e os parques da Disney abriram os portões de um jeito diferente: as entradas são agendadas, visitantes têm a temperatura medida e selfies com Mickey e Pateta, só quando a tormenta passar. Mas o receio ainda toma conta com a curva em elevação do vírus. Desde o início de junho, os registros diários de Covid-19 na Flórida batem a marca de 10 000 novos casos. Já são, ao todo, 423.847 neste estado norte-americano.
Na costa sudeste da Flórida, fica Boca Raton. É onde mora Juliana Nammur (foto), que há 22 anos mudou-se para lá. “O que eu mais curto aqui é a praia. A cidade na quarentena está tranquila. Já era, agora está morta”, define.
Conhecida como a “cidade para todas as estações”, com dias ensolarados quase o ano todo, Boca Raton é cheia de campos de golfe, parques e praias. O grande Red Reef Park, diante do oceano, alberga o Gumbo Limbo Nature Center, com trilhos, um jardim de borboletas e um santuário de tartarugas marinhas. No centro, o Boca Raton Museum of Art tem coleções americanas e europeias modernas e contemporâneas, e um jardim de esculturas e, para atrair turistas, está com entradas gratuitas até setembro. Nas proximidades, o Mizner Park Amphitheater recebe, ou melhor, recebia concertos e eventos.
Juliana trabalha com gastronomia para eventos e, como este foi o primeiro segmento a sentir o impacto da pandemia, ela precisou se reinventar. “Fiz um cardápio de comidas caseiras para delivery, com um custo 30% mais barato do que eu faria normalmente. Assim, as pessoas podem comprar. Acho que acho esta é a hora de um ajudar o outro”, conta.
A granjeira, de 48 anos, aproveita as horas vagas para caminhar na praia e nadar na piscina. Para ela, este momento é de chacoalhão. “Sabe quando o pai está bravo e coloca o filho de castigo, porque ele fez a maior zona na casa? Acho que é isso que está acontecendo, claro para quem acredita em Deus ou algum outro ser maior. O ser humano destruiu tanto a casa onde mora, né, a Terra, que agora está sofrendo as consequências”, comenta.
Juliana cita Ubuntu, filosofia africana que trata da importância das alianças e do relacionamento das pessoas, umas com as outras. “Como é que você pode estar feliz, se o seu vizinho não está?”, pergunta. E ela mesma completa: “talvez estejamos passando por isso para as pessoas pararem de ser egoístas e pensar que só o dinheiro é importante. Quem sabe essas pessoas – que são tão fúteis – consigam ver que tem outras coisas que também podem ser legais e podem aproximar a família”. Em síntese, na tentativa da tradução para o português, ubuntu seria “humanidade para com os outros”. “As pessoas estão aprendendo que ninguém pode viver sozinho. A gente vive numa sociedade e, se eu não colaborar, todos sofrem”, finaliza. De ubuntu, as pessoas devem saber que o mundo não é uma ilha. Com a pandemia, as pessoas estão vivendo este ensinamento na prática.
Por Juliana Martins Machado