Marcos Sá escreve sobre a máxima de que religião, futebol e política não se discutem

Nosso colunista escreve que as convicções morais e os valores se instalam no nosso superego e lá ficam para sempre na vida das pessoas normais.

Religião, futebol e política, não se discute. Sempre ouvi esse axioma dos meus pais, avós, tios, professores e toda sorte de pessoas que me cercavam. Passaram-se anos e as afirmações continuam mais atuais do que nunca. Motivo? Segundo Freud, as convicções morais e os valores se instalam no nosso superego e lá ficam para sempre na vida das pessoas normais.

1) Religião: Algumas das grandes guerras na história da humanidade foram por motivos religiosos. A Península Ibérica, com a maioria da população de católicos, foi conquistada e dominada pelos muçulmanos por mais de 300 anos. O Rei Manuel de Portugal expulsou os judeus de Portugal e exigiu que a rainha católica Isabel de Castela e seu marido Rei Fernando de Aragão expulsassem também dos seus reinos os judeus para unificar mais tarde o que se chamaria Espanha. E por aí caminhou a humanidade. O motivo principal de o axioma argumentar contra discussões sobre religião é um só: ninguém abre mão dos seus princípios religiosos. Eles estão impregnados no cérebro e no coração e, de lá, não sairão. Seja o cidadão cristão, budista, evangélico, muçulmano, umbandista, não importa. Não conheço um ser humano que mudou de religião. Portanto, discutir o tema leva a conflitos, enfrentamentos e brigas que não tem sentido, pois ninguém consegue convencer seu interlocutor que sua religião é melhor que a do outro. O Axioma venceu.

2) Futebol: Você conhece alguém que trocou seu time de preferência, por outro time? Futebol é paixão! Esse sentimento vem desde a mais tenra idade, em geral passa de pai para filho, de avô para neto ou de tio para sobrinho. Vem de família, de uma memória afetiva muito potente, entra na cabeça e no coração do torcedor e, de lá, não sai nunca mais. Já ouvi falar dos vira-casaca, mas jamais conheci um! Torcidas organizadas, cidadãos comuns apaixonados pelos seus times, pegam ônibus lotados, encaram chuva e sol, gastam o que tem e o que não tem para acompanhar seus times de coração. Cometem loucuras, selvagerias e barbaridades! Tudo em nome de uma paixão! Como discutir com essa malta? Quem consegue convencer seu interlocutor que seu time é melhor que o dele? O axioma venceu.

3) Política: Essa é a parte complexa do axioma. Um cidadão pode evoluir ou retroceder ao longo da vida intelectual e, aos poucos, se desiludir ou acreditar em novos valores, assumindo novas posições políticas. Isso leva anos e depende das experiências que temos com nossos políticos de estimação, ao longo de seus mandatos. Você conhece alguém que
muda de posição política de uma hora para outra? Alguém que você consiga convencer
e do nada ele vira-casaca? Muda sua visão ideológica? Pois existem. E são inúmeros.
São os políticos profissionais. Motivo? Para eles, Freud já era! Que se danem as convicções, as ideologias e a moral. Para eles, o que vale é o famoso interesse pessoal, toma lá da cá, poder, fama ou o sabe-se lá o quê. Um exemplo recente e marcante é de um dos nossos ex-governadores que, de detrator, passou a defensor ferrenho e de aguerrido acusador virou BFF (Best Friend Forever) no momento seguinte em que viu a possibilidade de virar vice-presidente do seu, até então, maior inimigo. Certamente, você deve se lembrar de vários casos assim. Na política, tudo é possível, até o impossível. Como já dizia uma velha
raposa política de coração felpudo, “a política é como nuvem, você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou”. Já a nós, pobres pagadores de impostos, só nos resta assistirmos a essa quebra no axioma e achar que tudo está normal. O axioma perdeu.


Por Marcos Sá, consultor de mídia impressa, com especialização em jornais, na Universidade de Stanford, Califórnia, EUA. Atualmente é diretor de Novos Negócios do Grupo RAC de Campinas

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