“Aos 38 anos e meio, eu percebi que poderia me separar do meu marido. Estávamos juntos por quase 12 anos na época. Estava tudo estranho e confuso na minha cabeça e coração. Já percebia que tinha uma terceira pessoa em nossa vida. Na verdade, na vida dele. (…) Aos 39 anos, eu tive certeza que entraria no ciclo do divórcio. Não dava mais pra segurar. Esbravejei e gritei, mas a raiva passou rápido, parecia que entendia a situação. E eu fiz o exercício de me colocar no lugar dele. (…) Com o perfil de coach, filha de pais separados, leonina, precisava criar estratégias para diminuir o meu sofrimento, ansiedade e evitar uma depressão. Porque nas minhas memórias afetivas eu me lembrava que minha mãe tinha passado por tudo isso e caiu numa depressão profunda. Precisava escrever esse roteiro da minha vida de forma diferente, pois a minha mãe não teve as mesmas oportunidades que eu. Dessa forma tinha uma responsabilidade moral de fazer uma outra história com todo esse aprendizado”.

Com esta história, a cotiana Laine Ventura deu início ao “Prateleira da Mulher”, um blog com histórias de mulheres que, em algum momento de suas vidas, passaram por grandes desafios e de alguma maneira conseguiram ressignificar. “Cada pessoa tem sua trajetória de vida e o tempo certo para se reconstruir e, compreendendo isso, vamos ver sob vários ângulos como o outro se refaz, através das histórias contadas no Prateleira. Acredito que essa troca pode contribuir muito para cada uma de nós”, comenta a criadora.

Tudo começou com a pandemia. Laine trabalhava no mercado corporativo, mas em razão de novas configurações na forma de trabalho, optou pela demissão. “Comecei a pensar em algo que pudesse ser um divisor de águas na minha vida dentro da situação que o mundo está vivendo e que, de alguma maneira, também pudesse ajudar outras pessoas. Foi aí que o blog surgiu”, relembra.

Ela começou contando a história dela – a que abriu esta matéria – de como superou seu divórcio de forma rápida e estratégica. E não demorou muito para que outras mulheres se encorajassem a contar suas histórias também. “Havia uma certa necessidade de fazer um registro, um desabafo sobre isso… e fui recebendo histórias bem interessantes de muitas outras mulheres do meu círculo de amizade”, conta.

A de Letícia Brasil é uma delas. Casada e mãe de duas meninas, Manuela e Lia, ela descobriu, há cerca de um ano e meio, que é compradora compulsiva. “Não foi fácil saber que sofria desse transtorno, e até chegar a hora de pedir ajuda (e eu pedi) e lutar por minha saúde mental e financeira”, revela.

A mãe de Nataly Almeida foi embora de casa e ela foi criada pelo pai. “Há quem diga que os pais “homens” têm a tendência de se ausentar, de se aventurar. Existem muitas histórias em que o pai vai embora e a mãe cuida das suas crianças sozinha. No meu caso a história é diferente”, conta emocionada. Sim, sua história é diferente da maioria. Daniela Ventura que o diga: “Na história da minha vida a palavra pai está escrita como o genitor, aquele que somente gerou. Aos 38 anos, eu paro para pensar em toda a minha trajetória sem a presença masculina de um pai. O que significou essa ausência para mim?”, pergunta.

Patricia Pio, entre tantas narrativas que permeiam a constituição de uma mulher negra, optou por um momento de sua história e conta como aprendeu a ser resistência: “a luta é diária, o racismo é constante e o empoderamento se faz necessário”. E Rosangela Maia fala dos tempos difíceis que estamos vivendo e os novos prazeres. “O grande desafio que acredito que todos estão vivendo é como manter a mente saudável. E uma arma sensacional que nós temos é a meditação através de uma respiração consciente. Usar nosso tempo para alimentar nossa mente com algo que realmente vai ajudar em nosso equilíbrio emocional e também em nossa saúde”, ensina.

A comunicadora e criadora do blog espera, em breve, compartilhar outras histórias. E com isso, encorajar outras pessoas a também superarem obstáculos e ressignificarem a sua vida. Não só para ela, mas para muitos, a pandemia trouxe novos sentidos. “Esse é um momento em que a vida convoca a sociedade a dar uma resposta individual e coletiva superior, dando-lhes a possibilidade de se tornarem pessoas melhores, mais humanizadas e mais livres de amarras”, finaliza. Ela encontrou no blog sua válvula de escape. E você?

 

Por Juliana Martins Machado

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