Há mais de um ano, iniciamos uma difícil travessia. Depois de um período muito maior do que prevíamos (ou desejávamos), continuamos a todo tempo preocupados e respeitando protocolos. Se para os adultos está difícil, não podemos deixar de nos atentar às crianças.

Após tantos meses, a criança já sabe que algo está acontecendo. Afinal, além de observar o entorno, ela está exposta a terminologias como pandemia, COVID-19 e coronavírus, mas nem sempre possui discernimento para compreendê-las.

As crianças entendem as informações de maneira concreta, sendo recomendado oferecer explicações objetivas. Pode-se, por exemplo, dizer que existe um “bichinho” no ar que causa uma doença e para evitá-la devemos usar máscara, mas não basta apenas dizer o que deve ou não ser feito, é preciso esclarecer os porquês.

Uma estratégia é devolver a pergunta à criança: “O que você acha? ”, “De onde você tirou essa dúvida? ”. Devemos ouvir o que ela tem a dizer antes de falar e explicar.

As crianças podem apresentar dificuldades para expressar o que estão sentindo. Algumas ainda não sabem nomear emoções e podem depender de um adulto para significar aquilo que se chama tristeza ou ansiedade. Por vezes, essa dificuldade se traduz em somatizar o sofrimento e queixar-se de problemas físicos, como dor na barriga, aperto no peito – pois é mais fácil descrever sensações físicas.

Como o corpo também fala, é fundamental estar atento aos sinais não verbais, como a expressão facial e a postura corporal das crianças.

“Virou estrelinha”: qual a melhor abordagem?

Diante de uma pandemia que já atinge mais de 450 mil mortos no Brasil, a perda de familiares ou conhecidos é sentida inclusive pelas crianças.

O ideal é lidar com o assunto de maneira serena e natural. Para ajudar a elaborar o luto podemos mostrar o ciclo de vida de uma planta, conversar, contar histórias, sugerir que ela escreva ou desenhe seus sentimentos e reforçar que, apesar das perdas, quem fica pode seguir em frente carregando consigo algo especial de quem partiu.

Alguns adultos optam por não falar sobre o assunto, mas ao agir desta forma, a criança precisará lidar com a fantasia, que no seu imaginário pode vir a ser pior do que a realidade.

Também é comum o uso de metáforas: “virou estrelinha” ou “foi para uma viagem sem volta”, mas trata-se de uma forma mais confortável apenas para os adultos e muito nebulosa para as crianças, principalmente as menores – com até seis ou sete anos de idade. Isso porque, como já dito, nesta fase elas compreendem os fatos de forma concreta.

O uso de metáforas pode resultar em questionamentos cujas respostas não fazem sentido no mundo infantil ou em interrogações que ficam guardadas em silêncio.

Não é preciso e nem recomendado oferecer detalhes, mas, sim, responder de forma simples e, caso não tenha o que dizer, explicar que você também não tem uma resposta. Lidar com tristeza, dor e perda são vivências inevitáveis em todas as fases da vida, por isso, compartilhar lembranças também pode ajudá-las e nos ajudar na ressignificação do luto.

Em meio a uma realidade inédita, ouvir, acolher, amparar, orientar e transmitir segurança, sem negar a existência dos perigos são princípios básicos e válidos para todos aqueles que lidam com crianças. As necessidades impostas pela pandemia trouxeram a oportunidade de pararmos por um instante a roda da vida, retomarmos princípios e valores e estreitarmos os laços com aqueles que dão sentido e beleza à nossa existência.

 

Juliana de Oliveira Góis
Orientadora pedagógica de apoio à aprendizagem do Colégio Rio Branco.
Psicóloga, psicopedagoga e mestre em Ciências.

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