“Ele não queria contratar mulheres novas ou recém casadas, pelo risco de engravidarem”

A discussão sobre maternidade é profunda, ela realmente impacta nossas vidas, e a verdade é que precisamos discutir sobre a presença dos filhos no nosso currículo. Para falar sobre isso convidamos a Camila Antunes e a Michelle Levy, proprietárias da empresa de consultoria Filhos no Currículo, para um bate-papo.

Vitória foi demitida após a licença maternidade, mesmo atuando na empresa há 8 anos. Durante esse período escutou várias vezes a recomendação para não selecionar mulheres muito jovens ou recém casadas. O proprietário não queria funcionárias grávidas, e chegava a declarar preferência por “jovens senhoras” com cinquenta anos, por não terem os filhos atrapalhando na rotina de trabalho.
Relatos como esse, infelizmente, são comuns, e percebemos que a maternidade é “obstáculo” para todas as mulheres, inclusive para as que não pensam em ter filhos. “Eu definitivamente não quero ser mãe, filhos não estão nos meus planos. Porém me sinto ameaçada com a questão da maternidade, já que tenho 31 anos e teoricamente estou na “idade fértil”. Até o número de convites para entrevistas é baixo, e já aconteceu de recrutador me ligar e nesse primeiro contato já perguntar se sou casada ou se penso em me casar. Já sinto nessa pergunta a intenção de investigar a possibilidade de gravidez.” desabafa Karina.
Mulheres são maioria no alto número de desempregados, e todas se perguntam qual a melhor idade para conseguir uma oportunidade. É como se para a mulher o caminho entre a juventude e a velhice fosse curto demais, e no intervalo só há tempo para engravidar e ter filhos.
A discussão sobre maternidade é profunda, ela realmente impacta nossas vidas, e a verdade é que precisamos discutir sobre a presença dos filhos no nosso currículo. Para falar sobre isso convidamos a Camila Antunes e a Michelle Levy, proprietárias da empresa de consultoria Filhos no Currículo, para um bate-papo.
 
Homens e mulheres são vistos da mesma forma dentro das empresas?
Não, ainda há desigualdade. Segundo o IBGE, as mulheres trabalham em média 3 horas por semana a mais do que os homens, mas ganham apenas dois terços do rendimento deles. E este cenário se agrava no caso de mulheres com filhos: elas ganham em média 35% menos do que profissionais mulheres sem filhos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Economia da FGV Rio.
O fato é que grande parte dos afazeres domésticos, cuidados com os filhos e carga emocional se acumulam nas costas das mulheres. Este peso acaba por sobrecarregá-las, diminuindo as possibilidades de trilharem um crescimento profissional. Envolver o homem é parte da solução para estas desigualdades. Como pai, ele compartilha das responsabilidades pela criação dos filhos e sua participação ativa pode minimizar a carga mental acumulada nos ombros das mãe que, por sua vez, acaba abrindo mão da carreira em alguns casos.
Como profissionais, eles percebem o valor da diversidade para os negócios: 73% dos homens consideram muito ou extremamente importante a igualdade de gênero no mercado de trabalho (fonte: Movimento Mulher 360).

Vocês usam o slogan “carreira e filhos devem caminhar juntos” e isso me dá um quentinho aqui no coração. Eu mudei muito após a maternidade, e sinto que para melhor! Vocês acreditam que a mulher se transforma após ser mãe?
Acredito que sim. Além das percepções da minha própria experiência de vida, existem vários estudos que apontam mudanças como, por exemplo:

  • uma pesquisa da Microsoft com 2 mil funcionários e 500 empregadores nos EUA mostra que após terem filhos, há um aumento das relações cordiais entre as mulheres com outros colegas de trabalho em 34%, o que reflete em maior capacidade de trabalhar em equipe.
  • um estudo liderado pelo neurocientista Craig Kinsley da Universidade de Richmond, EUA, em 2006, aponta que a experiência da maternidade impacta no desenvolvimento do cérebro da mulher, que passa a apresentar um maior desempenho em testes cognitivos, na capacidade sensorial e na tolerância ao estresse.

Com a chegada da criança, cresce um desejo de se tornar uma pessoa melhor já que os pais se tornam modelos para os filhos. Dentre as principais mudanças, acredito que generosidade, empatia, organização, agilidade, flexibilidade, tolerância e jogo de cintura sejam as principais. E como somos seres integrados, compartilhamos estas habilidades em todos os nossos papéis, inclusive profissional.
 
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O mês de maio está acabando, e com essa matéria fechamos o assunto Maternidade e Carreira aqui no Conexão & Emprego. Deixamos o convite para vocês refletirem sobre o tema, e se você é mulher e mãe se acolha, perceba e reconheça suas habilidades que se tornaram mais potentes após a chegada dos seus filhos. Se valorizar é o primeiro passo para conquistar respeito e novas oportunidades.

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