Ela é psicóloga e se mudou para Bragança, Portugal, em 2001. Em 2013, resolveu voltar para sua terra natal e, como não se adaptou ao Brasil, retornou para além-mar, onde mora até hoje. “A segurança em Portugal é, sem dúvida, o fator mais significante e compensador e, em Bragança, tive a oportunidade de criar os meus filhos com a mesma segurança e liberdade com que fui criada em Cotia”, lembra Vera Veiga Afonso. Desde 2018, está em Faro.
Faro é a capital da badalada região portuguesa do Algarve e encanta visitantes do mundo inteiro por suas praias bonitas, pôr do sol espetacular e uma série de monumentos históricos preenchem o repertório de belezas de um recanto com outras surpresas. “A beleza geográfica, o clima e a tranquilidade se traduzem em qualidade de vida”, descreve.
Daquela região turística, o que se vê hoje é uma cidade vazia. “Está tudo parado. Com as restrições de entrada no país e o funcionamento apenas do comércio e serviços de bens essenciais, temos poucas pessoas nas ruas. Durante a Páscoa, por exemplo, nas estradas só pode circular quem tinha declaração de trabalho em serviços e comércio de bens essenciais. Não se permitiu deslocações para visitas a amigos ou familiares”, conta.

Em Faro, Vera é proprietária da parafarmácia Pharmais Clinic Care, cujo lema é “+ por si, pela sua família e pela saúde pública”. Sim, você leu certo: parafarmácia. É um estabelecimento similar a uma farmácia, contudo limitada à venda de medicamentos que não necessitem de receita médica. Não está sujeito às restrições legais existentes para o licenciamento de farmácias, ou seja, não é preciso ser farmacêutico para abrir uma, basta a devida autorização da Secretaria de Saúde. “Como não podemos fechar, estamos atendendo com algumas restrições, utilizando equipamentos de proteção e tomando todos os cuidados em nível da higienização do espaço e superfícies”, comenta. O horário de funcionamento também foi reduzido.
Nas horas vagas, Vera reúne-se com a família: seu esposo Augusto e os filhos Bruno (24 anos), Letícia (22 anos) e Ana Carolina (18 anos). “Estar em casa com a família torna esses dias mais fáceis. Buscamos atividades lúdicas e recreativas de grupo, como filmes, jogos, músicas, culinária”, conta. Mas para ela, o mais importante do momento é ter “a consciência de que quanto mais nos resguardarmos nesta altura, mais rápido poderemos voltar a usufruir da liberdade e rotina habitual”.
Ela acredita que, quando a pandemia acabar, teremos outro grande desafio pela frente: a crise econômica. “Será necessário conscientizar as pessoas para um esforço conjunto, uma união comunitária e um grande espírito de mútua ajuda, bem como maior apoio ao comércio local e as atividades regionais. As pessoas deverão ser mais solidárias e compreensivas para que possamos enfrentar as dificuldades que irão surgir”, pontua.
Anteontem (22/04), o presidente da Câmara Municipal de Faro apresentou novas medidas para minimizar os efeitos da pandemia no setor socioeconômico da região. Veja no vídeo:
No próximo sábado (25/04), comemora-se a Revolução dos Cravos, movimento que derrubou o regime salazarista em Portugal, em 1974. E a Assembleia Municipal de Faro decidiu comemorar on-line o 46º aniversário da Revolução, “face ao estado de emergência originado pela Covid-19, mas mantendo a solenidade própria que lhe assiste”. A sessão comemorativa será transmitida no site do órgão e nas respetivas redes sociais. E como esta data é uma das mais importantes da história de Portugal, a Assembleia pediu ainda aos moradores para que se cante, às janelas, às 15h, o tema “Grândola, Vila Morena”.
Para finalizar, Vera cita a frase de Robert H. Schiller, economista, acadêmico e escritor norte-americano: “deixe as suas esperanças, e não as suas dores moldarem o seu futuro”.
Por Juliana Martins Machado