Este tema é bem interessante, pois a todo momento estamos nos policiando para poder comprar mais. Os cartões de crédito vão estourando, a conta ficando negativa e o desespero chegando em seguida. Atualmente, existem até coachespara você conseguir sair das dívidas e dos problemas financeiros. Para algumas pessoas, este problema acaba sendo patológico ou psicológico mesmo, aí precisam de ajuda de especialistas e, algumas vezes, de medicação e terapia.
Mas o que estamos falando aqui são daqueles consumidores que consomem de uma maneira mais ética, com parcimônia financeira, com alguns cuidados ambientais na escolha e inclusão social nas decisões. Sim, sei que não é fácil pela quantidade de informações e propaganda que recebemos a todo momento, mas é possível.
Uma das megatendências apontadas pela Ipsos em 2017, em seu documento “Global Trends Fragmentation Cohesion & Uncertaint”, mostra a sustentabilidade como um fator muito evidente com as mudanças e a pressão da sociedade, ou seja, é necessário que as empresas e os consumidores pensem juntos neste grande tema. Outra pesquisa da Nielsen de 2015, com 30 mil pessoas em 60 países, mostra que 66% pagariam mais por produtos e serviços mais sustentáveis, e ainda, se for feito um recorte por gerações e idades, a geração Z eleva esta porcentagem para 72%. Sendo quase que um modelo básico de pensamento para estas futuras gerações.
Muitos dos meus alunos e alunas ou as pessoas que assistem às minhas palestras perguntam se isso é uma realidade ou são números inventados. Existe até um movimento que comenta que esta tal da sustentabilidade é só uma nova “roupagem” para as empresas venderem mais produtos e serviços. E outros ainda dizem que é somente para obter mais lucro.
Sim, o objetivo do sistema vigente é lucrar e, para isso, que as empresas nasceram e tentam sobreviver. Se uma empresa destas começa a perder lucro durante muito tempo e tem prejuízos constantes, ela morre, chega ao seu fim. Ou seja, não existe mais.
Mas o problema é como estas empresas adquirem este lucro!
E o pensamento ou a consciência está em ganhar este lucro NÃO a qualquer custo e de qualquer jeito. É necessário um pensamento não só financeiro, mas também analisando as questões sociais e ambientais.
Mas, e o consumidor no Brasil está preparando para isso?
Segundo a pesquisa do Instituto Akatu de 2018, com 1090 entrevistados no Brasil inteiro, temos 24% destes mais conscientes. No estudo, o Akatu avalia 13 comportamentos dos entrevistados, como fechar a torneira enquanto escova os dentes, separar o lixo em casa para reciclagem, passar ao maior número possível de pessoas as informações que aprende sobre determinada empresa e produtos, planejar compras de alimentos, roupas, orgânicos, entre muitas outras ações. Muito bacana, pois tem tudo a ver com o livro que escrevi “101 Dias com Ações Mais Sustentáveis para Mudar o Mundo”.
Porém, a ideia aqui não é fazer propaganda do meu livro e sim mostrar que os indiferentes acabam cumprindo somente de 0 a 4 destes comportamentos. E no outro extremo, os conscientes, que fazem de 11 a 13 destes comportamentos. No meio destes dois existem ainda os iniciantes e os engajados.
Com a mesma metodologia que usou em anos anteriores 2006, 2010, 2012 e recentemente em 2018, o Akatu notou que o número dos iniciantes aumentou em 2012, de 32% para 38%, em 2018, o que mostra que as pessoas estão prestando mais atenção ao tema.
Infelizmente, em relação aos mais conscientes, os números diminuíram de 27% (2012) para 24% (2018), o que mostra que precisamos trabalhar mais com este tema e colocar outros correlatos à sustentabilidade nas nossas ações do dia a dia.
E uma das conclusões da pesquisa do Akatu é que a expectativa da população em relação às empresas é que elas façam mais do que a lei exige, cuidando das pessoas e da sociedade, o que tem tudo a ver com o que colocamos no começo do artigo. Pensar no lucro somado às pessoas e ao cuidado com o meio ambiente é algo básico a respeito do desenvolvimento sustentável e necessário à sobrevivência das empresas.
*Marcus Nakagawa é professor da ESPM; coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental (CEDS); fundador e consultor da iSetor; idealizador e diretor da Abraps; e palestrante sobre sustentabilidade, empreendedorismo e estilo de vida.www.marcusnakagawa.com, www.blogmarcusnakagawa.com