O fim de um ano velho e o começo de um ano novo faz com que repensemos nossas vidas. O que deixamos para trás, o que gostaríamos de ter feito, nossas conquistas, nossas perdas e principalmente os novos planos para o ano que se inicia. A mim, além das aspirações normais para o crescimento como profissional e como ser humano, o que me inspira para o ano novo são as coisas que eu gostaria de ter feito, mas em um plano de tempo amplo, mais universal e ambicioso. Algo como uma frustração positiva, por não ter feito coisas que admiro. Por exemplo, algumas coisas simples: Como não pensei em compor Hey Jude com Lennon e McCartney, Nessun Dorma com Giacomo Puccini e Planeta Água com Guilherme Arantes? Por que não joguei no meu São Paulo FC e não fiz aquele gol de falta que o Raí fez na final do Mundial de Clubes contra o Barcelona e que deu o primeiro dos três títulos de campeão mundial ao tricolor? Onde eu estava que não pintei os quadros O Grito de Edvard Munch, nem Os Girassóis de Van Gogh? Em que cama junto não dormi, enquanto dormia linda, Monica Belucci, a exuberante atriz italiana? Por que não saí pilotando meu próprio avião, nas turnês da minha imaginária banda de rock famosa? O que deveria ter feito para estar no dia e na hora que derrubaram o Muro de Berlim? Como não fiz a travessia do Atlântico Sul num barco a remo, a bordo junto com Amyr Klink? Adoraria ter planejado usar cabeças falsas de papel machê para enganar os carcereiros durante minha não fuga da prisão Alcatraz em São Francisco! Porque eu não estava presente para ajudar Maria Madalena a salvar Jesus Cristo se safar dos romanos, escapar da cruz e mudar a história da humanidade! Sofro por não ter tido a inspiração do Chico Buarque, que ao ver suas meninas crescerem e ganharem o mundo, compôs As Minhas Meninas. Queria ter criado o comercial “O primeiro sutiã a gente nunca esquece!” para a Valisiére, junto com o Olivetto. Por que não tive a ideia de criar o grupo “Porta dos Fundos”? Queria ter escrito o poema O Tempo, em parceria com o poeta Mario Quintana. Por que não tive a inspiração de criar moda como Balenciaga? Queria ter publicado, na década de 1940, o livro 1984, que na verdade era sobre 2020. Inspiração mesmo eu devia ter tido para inventar o uísque. Morro de inveja do criador da Netflix. Rodin esculpiu O Pensador e não me chamou? Queria ter dito a frase: “A felicidade não está em fazer o que a gente quer, e sim querer o que a gente faz”. Queria ter tido a perseverança, coragem, confiança e a insistência de Cristóvão Colombo, que convenceu a rainha Isabel de Castela a financiar sua aventura e descobrir a América. Queria ter inventado o tênis, o protetor solar e a máquina de gelo. Onde são mesmo as garagens que abrigaram Steve Jobs e Bill Gates, e por que eu não tinha esses endereços na minha agenda? Shakespeare, por que ele nasceu tão longe e tão antes de mim? Por que na minha turma da facul, não estavam nem o Mark Zuckerberg (Facebook) nem o Jan Koum (Whatsapp)? Queria ter cunhado a frase, “O sucesso só vem antes do trabalho, no dicionário”, “trabalhe, trabalhe, trabalhe, mas não se esqueça de que as vírgulas significam pausas”. Por fim, a vontade de que todos tenham paz nesse novo ano, com as bênçãos da oração de São Francisco (por que eu não estava lá, quando ele a escreveu?).
Por Marcos Sá, consultor de mídia impressa, com especialização em jornais, na Universidade de Stanford, Califórnia, EUA. Atualmente é diretor de Novos Negócios do Grupo RAC de Campinas