Pense rápido: você já presenciou algum passarinho colidindo com portas e janelas de vidro? Seja na sua casa ou fora dela? A resposta, certamente, foi positiva. Mas, caso ainda não tenha visto, saiba que graças à urbanização desenfreada, bilhões de pássaros morrem todos os anos vítimas desse tipo de colisão. São muitos joões-de-barro, sabiás e andorinhas que tentam atravessar o vidro invisível todos os dias.
O impacto da humanidade em relação à vida de outros seres vivos é tão devastador que, no caso das aves, o inimigo principal deixou de ser os predadores naturais e agora se divide entre: destruição de seu hábitat, poluição de rios e oceanos, animais domésticos e, por último, mas não menos preocupante – janelas e portas de vidro, vidraças e painéis espelhados.
Vidros transparentes são praticamente invisíveis aos olhos dos pássaros, pois eles enxergam as cores de uma forma completamente diferente da do ser humano. Isso faz com que esses animais não saibam detectar o perigo bem à sua frente. Em relação aos painéis espelhados, o que acontece é que eles não conseguem distinguir o que é real ou não – isso os leva a acreditar que a imagem refletida é uma continuação da paisagem. Portanto, essa falha de percepção causa a maior parte das mortes desses animais.
Em 2014, um estudo realizado pela revista científica The Condor, nos Estados Unidos, mostrou que, somente no país, cerca de 988 milhões de pássaros morrem vítimas de colisões por ano – estarrecedor para dizer o mínimo.
Scott Loss, um dos autores da pesquisa, explica que 56% das colisões fatais ocorrem em prédios baixos (de 4 a 11 andares de altura), 44% em residências e, em pouco mais de 1%, em arranha-céus.
Já no Brasil, estudos como esse são escassos, mas se compararmos alguns dados referentes aos dois países, como o total de espécies de pássaros (844 espécies nos EUA e 1.919 espécies no Brasil), pode-se dizer que as mortes por aqui sejam o dobro em relação às de lá.
Não dá para saber, ao certo, porque muitas destas mortes passam despercebidas, já que é raro um bando de pássaros se chocar contra uma janela de uma só vez. O mais comum são colisões individuais. Além disso, centenas de aves que morrem em decorrência de traumas causados pelas colisões nem sequer são encontradas. Os gatos e os ratos são mais rápidos. Com o impacto, os passarinhos sofrem múltiplas lesões e, mesmo que sobrevivam ao baque, morrem pouco tempo depois.
Possíveis soluções
O motivo das colisões é um só: as aves se chocam contra os vidros porque não os enxergam. Portanto, o primeiro passo é tornar nossas janelas e portas visíveis.
Segundo a instituição American Bird Conservancy, é possível utilizar alguns elementos nas janelas e em painéis de edifícios que podem reduzir o risco de acidentes, como fitas, tintas, filmes ou decalques do lado exterior, além da instalação de redes – dessa forma se cria uma barreira visual que permite que as aves sejam capazes de perceber o perigo.
Por outro lado, vale lembrar que a recomendação de fixar silhuetas de pássaros na janela, como as de gaviões, quase nunca evita a colisão.
Outra solução é pintar ou adesivar as janelas com produtos que reflitam a luz UV. Boa parte das aves é capaz de enxergar a cor ultravioleta (UV), então, é possível tornar as janelas visíveis para as aves, mas mantendo-as ainda transparentes para os olhos humanos, já que não é possível para as pessoas enxergar a luz UV.
Além dessas, existem várias outras soluções profissionais no mercado, como adesivos perfuradores que deixam as janelas opacas do lado de fora, mas ainda transparentes do lado de dentro, e vidros especiais com estruturas visíveis apenas para pássaros.
Mas, veja bem, embora a regra seja tornar os vidros visíveis e menos reflexivos, é extremamente recomendado – principalmente para empresas – que antes de utilizar qualquer recurso tecnológico, um especialista seja consultado, principalmente para que o desempenho dos funcionários ou a vida útil de produtos não sofram nenhuma interferência negativa.
Entre as dicas, busque a que se encaixa melhor no perfil da sua casa ou empresa e a utilize. A conscientização da comunidade é a arma principal para barrar essas mortes desenfreadas de seres tão frágeis e únicos.