Arte Observada: Ricardo Cherbeluka

No mês em que a REVISTA CIRCUITO completa 18 anos, apresentamos um artista que começou a pintar há exatamente 18 anos: Ricardo Cherbeluka.

A Revista Circuito completa 18 anos de idade! Para comemorar esta data especial, apresento um artista que começou a pintar há exatamente 18 anos também: Ricardo Cherbeluka.

Nascido em São Paulo, em 1978, hoje trabalha em seu estúdio, localizado na cidade de Cotia. O artista, já conhecido nos círculos artísticos só como Cherbeluka, tem um currículo extenso e vem traçando sua trajetória de forma brilhante. Com Licenciatura em Artes pelo Colégio Claretiano, formado em Artes Plásticas pela Faculdade Paulista e com uma grande lista de cursos e workshops extracurriculares dentro e fora do Brasil, é representado pela gigantesca Galeria André, pelo Espaço Paulista de Arte e outras galerias. Premiado em salões internacionais, possui obras no acervo do Centro Cultural Pedro Bortolosso (Secretaria de Cultura do Município de Osasco/SP) e Museu Casa de América – Madri, Espanha. Algumas de suas pinturas a óleo hoje fazem parte de acervos na Itália, EUA, França, Canadá, China, Espanha, Argentina e Brasil. Lecionou Artes na Academia Paulista de Artes e Educação Artística na Fundação Instituto Tecnológico de Osasco. Promove, também, workshops no Brasil e exterior.

Nina Simone, uma vez, disse que “é dever do artista refletir o espírito do tempo em que ele vive”. Os trabalhos de Ricardo realizam justamente essa função ao tratarem de diversos assuntos e situações que ganham especial força em suas telas. Suas obras impactam tanto visualmente quanto esteticamente. No passado, transitou por diversos temas que denunciam as condições socioeconômicas do Brasil. Hoje, o universo urbano é a inspiração para o artista. Em seus trabalhos mais recentes busca aquilo que há de lúdico na cidade de São Paulo. Cherbeluka retrata com precisão as paisagens da cidade com um estilo próprio e único. No seu universo, a grande selva de concreto fica mais romântica, mais calma e muito mais bonita. Nada escapa ao seu olhar artístico: as ruas e os túneis, os carros e o trânsito, a arte e a até pichação nos muros são os protagonistas. A cada quadro, nosso olhar sobre o espaço se renova. Isso é consequência de uma inteligência visual aprimorada pela maneira como vê o mundo. Seu olhar encontra a beleza e a criatividade nos espaços mais díspares, dentro do princípio de que cada nova pintura é a forma de enfrentar e solucionar questões estéticas e sociais.

VAMOS OBSERVAR
Cherbeluka
Túnel da Rebouças, 2018
Óleo sobre painel
140 x 120 cm

A obra Túnel da Rebouças é umas das mais recentes criações do artista. Em seus imponentes 140 x 120 centímetros, retrata um espaço facilmente reconhecível por quem mora em São Paulo. Quem nunca ficou preso no trânsito da Avenida Rebouças? É como se aquele túnel nos obrigasse a parar no meio do caos. Mas, ao contrário destes desconfortos cotidianos, esta obra nos transmite uma paz e serenidade estranhas. Esta transformação feita pelo artista mostra o poder que a arte tem, o poder que um olhar diferente tem.

Cheberluka tem como inspiração artística ninguém menos que Rembrandt Harmenszoon van Rijn, considerado um dos maiores nomes da história da arte europeia e o mais importante da história holandesa, visto por alguns como o maior pintor de todos os tempos. Conseguimos reconhecer traços desta admiração na paleta de Cherbeluka. O uso de cores complementares tênues que remetem à pintura clássica cria um contraste interessante nas imagens contemporâneas que escolhe retratar. Nesta obra a evidente paleta com tons enferrujados e azuis pastel embelezam um espaço que é totalmente ignorado por milhares pessoas que por lá passam todos os dias.
A perspectiva é outra técnica clássica também bastante usada no conjunto da obra do pintor. Desde o seu surgimento, na Renascença, quase toda pintura obedecia a esse método de representação. A perspectiva é um expediente geométrico que produz a ilusão da realidade, mostrando os objetos no espaço em suas posições e tamanhos corretos. Na obra sobre a qual discorro, a perspectiva lindamente usada, além de literalmente nos carregar para dentro do túnel junto aos carros, demonstra a habilidade técnica do artista. Pintar não é uma atividade repetitiva na qual somente a prática oferece respostas. O exercício permanente torna o criador cada vez mais preparado para enfrentar os mais diversos desafios, seja em temas, cores ou formas. O que existe nesse processo criativo é a fusão de alguns elementos importantes que vão se articulando e acumulando com a experiência e a prática adquiridas. Por um lado, existe o vivenciar dos elementos pintados; por outro, o estudo e o desenvolvimento de uma técnica apurada ao longo do tempo. O artista engajado e apaixonado pelo que faz está sempre buscando seu aprimoramento. Cherbeluka é a prova de que a arte é uma jornada para os fortes, que não desistem e que nunca se cansam. Esta e outras obras inéditas do artista estarão expostas em sua primeira exposição individual do ano, na galeria Glen Arte, na Aldeia da Serra, em Barueri. O artista também participará de uma exposição coletiva na Galeria André em junho deste ano.


Por Milenna Saraiva, artista plástica e galerista, formada pelo Santa Monica College, em Los Angeles.

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