Arte, cultura e muitas cores. Com esses e outros elementos carregados de valores sociais, o maior painel de grafite da cidade começa a ser produzido pelas mãos de artistas premiados com recursos da Lei Aldir Blanc. A obra que irá envolver uma área de 220 metros lineares, está localizada na praça José Giorgi com a rua Maestro Manoel Vitorino dos Santos, altura do km 26 da Raposo Tavares. O projeto intitulado “O maior mural de grafite de Cotia” tem como objetivo proporcionar para a população a convivência com a arte urbana dentro de uma visão geral do que está englobando no grafite: expressão, imaginação e muitas cores.
Os cinco artistas responsáveis para trazer essa arte visual a prática são Italo Marciano, Icaro Chang (Cravos), Mikaela Masetti (Mika), Carlos Augusto (Caco) e Maria Fernanda (Fefa). Além destes, Emerson Stoned foi convidado pelo grupo para preencher trecho do muro, que, para o artista, será uma forma de transformar o dia das pessoas trazendo cores para um espaço que era vazio: “O grafite, para mim, sinceramente é uma arte de expressão. É você se expressar, às vezes colocar o que você está sentindo em um muro pode melhorar o seu dia e o de outra pessoa que vai estar passando por ali, às vezes em um dia ruim e ao ver um espaço com mais cores, mais animado, então o grafite traz um certo conforto para as pessoas”.
Italo Marciano é um dos artistas mais reconhecidos da região, atua com grafite desde os 16 anos e já se destacou com essas atividades, entre elas, o mural do Colégio E. E. Vinícius de Moraes e o maior painel de Caucaia do Alto, na ONG Despertar Para o Próximo. Sua família é artista, a mãe é designer de arte e o pai cenógrafo, então o jovem cresceu envolvido com fantasias, personagens e incentivo para o meio artístico. Italo explica que dentro desse segmento, o grafite traz tanto aprendizado e importância nas atividades do dia a dia que acaba se tornando um estilo de vida. “Quando a gente fala sobre grafite, pintar o muro é apenas uma parte porque vai muito além disso. Você passa a sair na rua com um olhar diferente, começa a interagir com o ambiente e com as pessoas de uma outra forma, é uma arte de intervenção. O grafite se torna um estilo de vida”, diz.
Mikaela Masetti, ou Mika como é conhecida, também atua com grafites desde os 16 anos, com formação superior em Artes Visuais: escultura, gravura e pintura pelo centro universitário Belas Artes, a artista tem suas obras registradas por variados pontos de circulação de Cotia e São Paulo. Sua relação com o grafite teve início observando as ruas quando andava de ônibus e foi desenvolvendo curiosidade em reparar mais os ambientes à sua volta. Hoje, vê nessa produção visual, um meio para chamar a atenção das pessoas e de conhecer o espaço a sua volta. “O grafite é para mim uma manifestação, uma linguagem que vai muito além de ser só tinta na parede. Ele expande os horizontes e a relação humana. Também faz parte da construção de uma história, querendo ou não a gente está aqui hoje tendo a oportunidade de nos comunicar com outras pessoas através do muro e isso é muito gratificante. Principalmente por estar na rua, a gente pode ocupar esse espaço público e trazer uma voz através de desenhos”, conta.
Fêfa também é uma artista que traz olhar feminino através das pinturas. Para ela, o grafite possibilita maior liberdade de expressão e empoderamento às ruas da cidade, e através dele se dedica a trazer inspiração com suas mandalas e jardins, já que ela mesma se inspira na geometria sagrada e arte botânica. “O grafite nunca é para mim, é sempre para os outros. Por isso, deixo ele na rua assim. Para mim, a importância dessa arte não é só trazer uma coisa positiva para as pessoas que param para observar, alegrando seu dia, mas também como forma de inspirar a sentir a cidade”, afirma Fêfa.
Com atividades principalmente na área de grafite e pintura comercial, Icaro Chang é outro artista que se destaca no projeto. Sua relação com essa área começou também cedo, especialmente por sua amizade com Italo e Emerson na época da escola. Apesar da influência dos amigos e de percorrerem trajetórias relativamente próximas, o estilo de Icaro para se expressar através da arte visual foi bem distinta na equipe, procurando manter as raízes do grafite. “Grafite foi a maneira que eu encontrei para me inserir na arte e me expressar de uma maneira até para falar mais comigo. No meu caso, não faço desenhos específicos, trago isso mais por letras, mas também dentro das letras pode-se trabalhar o imaginário com toda a parte estética e cores. Trabalhar o grafite pelas letras foi mais significativo para mim do que o próprio desenho”, comenta Icaro Chang.
Foi na época da escola, quando Caco tinha gosto por desenhar nas cadeiras, portas e até mesmo provas, fazendo com que a presença da sua mãe fosse frequentemente requisitada na secretaria, até que ela decidiu colocar o filho em um curso de artes. Em pouco tempo, seu talento e as técnicas aprendidas no curso trouxeram reconhecimento em exposições e eventos que passou a ser convidado. Caco trabalhou com pintura sobre tela e com arte digital, mas foi com o grafite que mais se identificou, e agora se realiza abordando a relação do homem com a natureza nos detalhes de suas obras. “O grafite pra mim é a realização em todos os sentidos, profissional, pessoal, etc. Ele também representa o que eu sinto, o que eu vivo e o que quero transmitir para as pessoas, é um pouco de mim para o mundo todo através de cores”, diz.
Textos e fotos: Eric Ribeiro