Aumenta o número de casos de alcoolismo entre mulheres

A Organização Mundial da Saúde (OMS) apontou que 3,2% das mulheres brasileiras apresentam algum transtorno relacionado ao uso de álcool – dessas, 1,8% já tem diagnóstico de dependência. Ampliação do debate é um dos maiores aliados na prevenção e tratamento da situação, ressaltam especialistas da área

O alcoolismo é uma doença crônica que atinge mais homens do que mulheres em todo o mundo. Mas esse cenário está mudando e, de acordo com profissionais do setor, isso precisa ser amplamente debatido e priorizado nas questões de saúde da população.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) apontou que 3,2% das mulheres brasileiras apresentam algum transtorno relacionado ao uso de álcool – dessas, 1,8% já tem diagnóstico de dependência.
Segundo o Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), cerca de 16% delas são universitárias e apresentam risco de moderado a alto de se tornarem dependentes. Além disso, danos ao fígado, ao coração e outras doenças são mais comuns em mulheres que ingerem álcool com uma frequência acima de três doses diárias.
Prevenção
A professora Zilá Sanches, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), participa ativamente dos Programas de Prevenção ao Uso de Drogas para Meninas. De acordo com a docente, as mulheres recorrem principalmente às drogas sintéticas por questões de ansiedade, depressão e transtornos alimentares.
“A principal forma de prevenir o uso abusivo de substâncias químicas é o vínculo familiar e estar atenta às amizades. Os adolescentes precisam de demonstrações de interesse, afeto, diálogo e permanecer atento aos amigos”, enfatiza a professora.
“Vivemos em uma sociedade ainda muito machista. Por isso, o tema deve ser priorizado. O alcoolismo entre mulheres aumenta e a escassez de discussões colabora com o estigma da enfermidade”, avalia Murilo Campos Batisti, presidente do Conselho Estadual Sobre Drogas (Coned).
Silvia Brasiliano, responsável pelo Programa da Mulher Dependente Química (Promud), estuda a evolução do uso do álcool e outras drogas e ressalta os malefícios do consumo de drogas (cocaína, crack e maconha) pelas mulheres durante a gravidez, além da possível perda da guarda dos filhos como uma das consequências.
“A maternidade é um fator fundamental para as mulheres procurarem tratamento. Muitas recorrem às drogas por desemprego, abuso sexual e abandono. É necessário que a cidadã, neste período em que está mais sensível, seja auxiliada por profissionais como psiquiatras e assistentes sociais”, afirma.
Lei Antiálcool
Desde que a Lei Antiálcool para menores entrou em vigor, em novembro de 2011, até dezembro de 2018, o Estado de São Paulo realizou 1,4 milhões de inspeções e 2,9 mil autuações. Apenas na região do Litoral Norte, foram 24 mil inspeções e 36 autuações.
“Ao longo do tempo, a Lei Antiálcool paulista atuou como uma importante ferramenta para inibir o consumo de álcool pelos jovens”, enfatiza Maria Cristina Megid, diretora da Vigilância Sanitária Estadual.
Independentemente do gênero, o debate aberto sobre o assunto contribui para que haja uma disseminação das mensagens e reflexões por parte da sociedade em geral em relação ao tema, tão delicado e pungente.
“Ser dependente é estar sempre em vigilância. Um dia de cada vez. É necessário que os espaços para falar dos problemas específicos das mulheres sejam cada vez mais ampliados”, ressalta a socióloga Marta Reis.

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