Granjeira Fernanda Hellmeister fala sobre mercado de segunda mão de artigos de luxo

O mercado de segunda mão de artigos de luxo vem crescendo significativamente nos últimos anos e, de acordo com relatório publicado pela Allied Market Research, deve atingir US$ 89,9 bilhões até 2026. Pioneira nesse ramo há 8 anos, a granjeira Fernanda Hellmeister é referência, não só pela curadoria, mas também por ser sócia de um dos escritórios de perícias antifraudes mais conceituados do Brasil. Sempre apaixonada por bolsas, sapatos e acessórios de luxo em geral, entrou para o ramo do desapego quase que por acaso. Estimulada pela mãe que estava reciclando suas peças, criou uma página em uma rede social e começou a anunciá-las. Para sua surpresa, fechou a primeira venda em menos de 24h. Foi aí que essa geminiana enxergou um negócio promissor e, impulsionada por sua ascendência em Virgem, não demorou a estruturar a Closet Care. A plataforma é especializada na revenda de artigos de luxo seminovos e tem quase 170 mil seguidores, incluindo muitos famosos. O ateliê fica na Granja Viana e as “coisas que só o bairro proporciona” já renderam situações hilárias, como a invasão de macacos no meio de uma avaliação de uma bolsa Chanel. Foi ali que ela recebeu nossa equipe para um bate-papo descontraído sobre mercado de luxo, consumo consciente e, de quebra, deu dicas de como checar se um produto é, ou não, autêntico.

Antônio e Gustavo, filho e marido de Fernanda

Ao fazer uma rápida busca pela Internet, vem a informação: figura requisitada sempre que alguém precisa checar a autenticidade de um produto. Mas antes de qualquer coisa, perguntamos: quem é Fernanda Hellmeister por Fernanda Hellmeister?
Politicamente correta, extrovertida, perfeccionista, determinada, com um coração enorme, com senso de justiça inabalável, bem-humorada, divertida e que fala demais. Apesar de não achar, todos à minha volta dizem que sou muito engraçada, tenho crises de riso nos lugares mais inusitados (risos). E sou muito grata a Deus, minha família e a todas as oportunidades que a vida me dá. Saí da casa dos meus pais, pela primeira vez, aos meus
15 anos de idade e fui morar no lar doce e acolhedor da minha avó. Fiz faculdade de direito e de psicologia, porém só me formei na segunda. Alguns anos depois, encontrei o cara mais incrível, gentil e amável desse mundo, que sempre está ao meu lado me apoiando em absolutamente tudo e que nunca deixou de acreditar em mim. Temos um filho incrível e adorável. Após o nascimento dele, descobri um problema de saúde que me fez ganhar muito peso, mas que hoje já consigo controlar.

Família granjeira: Fernanda com o irmão Guilherme e os pais Maria Regina e Orlando

E é granjeira das antigas também.
Sim. Me mudei para cá aos 12 anos (Fernanda tem 38 anos). A Granja Viana, para mim, representa um lugar aconchegante, onde me sinto segura para criar meu filho. Temos boas opções de restaurantes e de entretenimento. O público granjeiro é muito especial, é aquele que quando agenda uma visita na loja, traz logo um bolinho e fica por horas conversando. Uma vez, atendia uma querida cliente e a janela estava aberta. Dois macacos simplesmente invadiram a sala e a cliente, que morava em São Paulo e não estava acostumada com aquela situação, colocou rapidamente a mão em cima do seu colar da coleção Victoria, repletos de diamantes da Tiffany, que estava no pescoço e saiu correndo pela loja, achando que eles iriam pegá-lo. (risos) Mesmo eu estando acostumada com esses bichinhos que habitam por aqui, um dia estava ao vivo no Instagram avaliando uma Chanel quando eles simplesmente entraram novamente na sala e eu entrei em total desespero. Os comentários dos seguidores eram os mais engraçados, alguns diziam para oferecer uma banana, outros pedindo para eu ficar parada. Tinha até gente me perguntando qual a “marca” do macaco. (risos) O momento ficou eternizado em vídeo dentro do Insta e teve milhares de visualizações.

Aliás, você conta com quase 170 mil seguidores em sua rede social e, entre eles, estão Luiza Helena Trajano, Iza, Val Marchiori, César Menotti, Simony, Felipeh Campos e Silvia Bonfliglioli, entre outros. Como você enxerga esse reconhecimento?
É sempre muito gratificante, ainda mais em pensar que são todos seguidores orgânicos, que confiam em meu trabalho. O boca-a-boca sempre foi o meu melhor marketing.

Seus pais fundaram, há mais de 4 décadas, um dos escritórios de perícias antifraudes mais conceituados do Brasil

Você é dona do Closet Care, um brechó de luxo, que está prestes a completar 8 anos. Por que resolveu investir neste mercado?
Minha paixão por artigos de luxo nunca foi segredo para ninguém. Eu, desde pequena, era quase que obcecada por bolsas, sapatos e acessórios de luxo em geral. Minha mãe possuía as mais clássicas e desejadas bolsas de luxo, costumava comprar o mesmo modelo em diversas cores e tamanhos diferentes. Passados alguns anos, ela foi reciclando suas peças
e dando espaço para as mais contemporâneas e, nesse momento, me vi quase que obrigada a vendê-las. Na época, criei uma página em uma rede social, que contava apenas com cerca de 600 seguidores e comecei a anunciar as peças da minha mãe e também algumas minhas. Para minha surpresa, em menos de 24h, uma pessoa se interessou por uma determinada peça, solicitou minha conta para pagamento e, sem me conhecer, fez um depósito de 6 mil reais. Naquele momento, enxerguei a possibilidade de um negócio promissor e, com meu ascendente em Virgem, fui logo estruturando toda a empresa. E em
pouco tempo, eu já tinha reconhecimento nacional. Chega a ser fascinante trabalhar com aquilo que a gente ama, além de ser uma excelente oportunidade para quem busca comprar peças por um valor bem mais acessível.

Em algum momento você teve medo de que não desse certo?
Não podemos ter medo do fracasso. O medo impede qualquer um de assumir os riscos necessários para seguir em frente.

Ao longo deste período, teve alguma situação um tanto quanto curiosa?
Temos as mais diversas situações nesse mercado. Por exemplo, a cliente que, depois de alguns anos, descobre que a bolsa que comprou era da sua melhor amiga. E também tem mulher que chega na loja para vender a bolsa que ganhou de presente de casamento do marido e constata ser um produto falsificado.

Fernanda desenvolve um trabalho minucioso para checar a autenticidade de um produto.

Com toda sua expertise, por quanto tempo, em geral, você observa uma peça para notar se está diante ou não de uma cópia? Se bater o olho, já sabe que é fake?
Essa é a pergunta que eu sempre respondo. (risos) 99% das peças falsificadas, no meu ponto de vista, são absurdamente grosseiras. Uma ou outra peça, acaba dando um pouco mais de trabalho, mas logo dá para perceber que não se trata de uma original.

Existe alguma diferença entre réplica e falsificação?
Sim, total! A maioria acredita que são sinônimos, no entanto não tem nada a ver. Réplica é quando o produto é produzido com a autorização de quem detém a patente. Já a falsificação é quando não se tem essa autorização. Comprar, vender ou produzir produtos falsificados é crime e se enquadra no artigo 184 do Código Penal.

As bolsas da Louis Vuitton e da Chanel são as mais falsificadas no mundo. Marcas brasileiras também são alvo de falsificação?
Hoje em dia, o falsário falsifica praticamente tudo e as marcas brasileiras não ficam de fora desse ranking.

Quais são outros produtos alvo de falsificação?
Bolsas, relógios, calçados, óculos, roupas e até mesmo coisas mais simples, como chaveiros, lenços, entre outros.

Como podemos saber se estamos diante de uma cópia? Pode nos revelar algumas dicas de autenticidade das principais marcas?
As bolsas da Louis Vuitton fabricadas em Canvas e estampadas no Monogram, obrigatoriamente, ao sair da loja, começam a ter suas alças bronzeadas naturalmente. Aquela bolsa com as alças bem clarinhas e branquinhas merecem maior atenção! Já um dos maiores erros das peças falsificadas da Chanel são os Hot Prints fixados na etiqueta interna que, muitas vezes, estão com cor diferente dos demais metais da peça. Outra dica importante, e vale para todas marcas, é verificar a presença de resquícios de cola, costuras tortas e cheiro de tinta barata. Essas são fortes evidências de uma peça fake. Eu poderia ficar por horas detalhando as mais importantes dicas. E aliás, eu adoraria. Porém, se os
falsários souberem de tudo que sei, eles vão se aperfeiçoar cada vez mais, e essa com certeza não é a nossa intenção.

Este sapato azul se chama “Oz Mule” e foi confeccionado em couro de avestruz. A Hermès produziu pouquíssimas peças deste modelo, que em loja custa R$ 9.200,00

Quais são os certificados que devem acompanhar a compra?
Ah, também existem certificados falsos e até mesmo notas fiscais falsas. Então, o importante é confiar no local onde está comprando.

Uma bolsa de luxo usada pode chegar a custar quanto?
Varia muito de modelo, material, marca e até mesmo o estado do produto. Mas, geralmente, começa por volta de R$ 500 e chega a R$ 120 mil. Agora, se a peça for de couro exótico então, pode chegar a custar bem mais.

Falamos bastante de peças femininas. Mas e o público masculino, onde se encaixa neste segmento?
Há peças para os homens também. Relógios, óculos, canetas, gravatas, mochilas, pastas, camisas, calçados… (para e pensa) Mas muitos também compram para presentear suas mulheres. Atendemos todas as classes, temos peças para todos os bolsos e gostos. O público LGBT+ também não
fica de fora, compram muito e também desapegam bastante. Hoje em dia, comprar Second Hand (segunda mão, em tradução livre) deixou de ser tabu ou vergonha. Comprar em brechó é chique, inteligente, atual e é uma oportunidade.

Casacos de luxo: o Balmain sai em loja por R$ 24.800,00, já o da Chanel, confeccionado em tweed, por R$ 67.200,00

Boutique de artigos de luxo seminovos valoriza o consumo consciente, certo?
As peças de segunda mão geram um impacto bastante positivo para o momento atual que é de repensar o consumo. Ao adquirirmos um produto seminovo, estamos contribuindo para a extensão da vida útil daquela determinada peça e reduzindo significativamente os recursos naturais que seriam utilizados na confecção de um novo.

E também não deixa de ser um investimento. Pensando por este viés, na sua opinião, qual o melhor modelo para quem quer comprar um item de luxo?
Eu costumo brincar com meus clientes, que o melhor investimento é aquele que você compra e usa. (risos) Se você usa, não existe mau investimento. Brincadeiras à parte, procure investir em It bags, como por exemplo as clássicas da Chanel, que são peças permanentes nas lojas e que possuem cerca de dois reajustes anuais.

Para finalizar, você acha que mais do status, produtos de marcas são símbolo de pertencimento?
Sim. As marcas incluem as pessoas em um seleto grupo de exclusividade do luxo, além de um bom investimento!

Por Juliana Martins Machado
Fotos: Fernanda Sá e arquivo pessoal

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