
Foi ainda bem jovem que Inocência Manoel teve suas primeiras relações com a área de atuação. Aos 15 anos, começou a trabalhar em um salão de beleza perto da casa onde morava, e logo passou a pesquisar sobre os tipos de curvatura dos fios, para entender, inicialmente seu próprio cabelo que ela considerava com “diferentes tipos de fios sem definição”. Foram naqueles dias que começou a estudar a fundo as variedades capilares, químicas e transformações. Ao longo dos anos, ganhou experiência trabalhando nessa área e desenvolvendo estudos acerca das particularidades de cada tipo de fio, ainda mais quando passou a atender moradores da capital paulista e decidiu fundar sua própria empresa de cosméticos.
“A capital do estado é uma cidade cosmopolita, que abriga pessoas vindas de todas as partes do país e do mundo. Por isso, a variedade de fios sempre foi constante em minha vida. Os produtos disponíveis no mercado, na época, não atendiam a todos. Por isso me via obrigada a manipular meus próprios tratamentos. E foi isso que deu origem à Inoar. Junto com meu filho único, Alexandre Nascimento, fundei a empresa onde trabalhamos até hoje”, conta.
A especialista revela que o mercado de cosméticos é um dos que mais crescem na atualidade, mas a indústria tem apenas 29% de liderança feminina em conselhos e equipes executivas, de acordo com o LedBetter Gender Equality Index, grupo de pesquisa que administra dados referentes à participação das mulheres em cargos de liderança. “Há muitas mulheres, mas não nos cargos de liderança. É um paradoxo ter mais homens nos cargos de alta gestão de um setor essencialmente voltado para nós, mulheres”, reflete a profissional sobre os dados que mostram a desigualdade de gênero na indústria que deveria ser mais aberta às mulheres.
Em muitos segmentos do mercado de trabalho que possuem esse machismo estrutural, a rotina das mulheres se torna ainda mais difícil. Inocência manifesta que esses obstáculos às vezes são pouco visíveis, até imperceptíveis, porém constantes no caminho das mulheres até as posições de destaque em uma empresa. “No dia a dia, são diversos os desafios. Se somos firmes e precisamos fazer nossa voz ser ouvida, muitas vezes atravessadas pela prática sexista de ser constantemente interrompidas, dizem que estamos ‘loucas’. Já o homem, numa mesma situação, é chamado de firme, seguro, é aplaudido de pé. Se somos maleáveis, nos chamam de fracas. Se ousamos virar a mesa, ou elevar nossa voz, nos chamam de histéricas. Tudo o que é visto em um homem como uma grande qualidade profissional, para nós, vira desqualificação. A todo tempo, nossa imagem está em teste”, comenta.
Por Eric Ribeiro