
O cartunista sangue bom mais rock’and’roll de todos os tempos
Neto de imigrantes italianos, filho de metalúrgicos, nascido no subúrbio do ABC Paulista e crescido em meio a política que movimentava a região na década de 60, Marcio Baraldi chegou ao mundo com o lápis na mão e cheio de criatividade na moringa. Tendo Fred Mercury como inspiração, converteu-se ao rock’and’roll ainda na infância.
Peladas com a molecada somente aos finais de semana. Deu tchau aos amiguinhos pela janela de casa, aposentou aos poucos os brinquedos que tinha e transformou seus cadernos, lápis e borrachas em objetos de puro divertimento; era papel pela casa que não acabava mais. “Eu queria fazer minhas próprias histórias e enchia os cadernos com personagens que criava de monte. Era aquele moleque que todo mundo batia o olho e falava: Ah, esse garoto vai ser desenhista quando crescer”, conta ele.
Com o passar do tempo, foi dividindo esta gostosa atividade com os trabalhos que fazia para ajudar no orçamento da família. Com apenas 11 anos, o garoto distribuía panfletos, trabalhava de flanelinha e entregava roupas numa lavanderia. Tempo ruim? Não tinha.
Aos 14 anos já atuava como chargista profissional no Sindicato dos Bancários de São Paulo. Com esta idade já tinha um entendimento político apurado e, como ele mesmo já afirmou, desenvolvia sua visão revoltada do mundo. Converteu-se a um método humanista e sem preconceitos de desenhar pessoas e situações.
Nesta fase, Baraldi já criava personagens polêmicos, políticos e cheios de personalidade.
Apesar das dificuldades da vida, nunca parou de estudar. Formou-se em desenho mecânico e depois em artes plásticas.
Personagens que deram o que falar:
• ROKO-LOKO • ADRINA-LINA • RATOZINGER • TATTOO ZINHO • TATI TATTOO • PÉRSIO PIERCING • JOE STICK • VAPT E VUPT • MALUCO E BELEZA • EURIKO • RITALINDA.

Recentemente, produziu e dirigiu um documentário sobre outro ícone dos quadrinhos, Rodolfo Zalla – um dos maiores Mestres do Quadrinho Brasileiro. Ele tem 81 anos de idade e 60 de carreira, O filme intitulado “Ao Mestre com Carinho” é seu primeiro trabalho do gênero.
A paixão pelo rock, o amor pelos desenhos e a fascinação por política fez com que em 1996 o Roko Loko (réplica “quase” perfeita de seu criador) e o Adrina Lina fossem criados e ocupassem o posto de “queridinhos” entre os roqueiros do Brasil. Os personagens já estrelaram três livros de quadrinhos, um videogame para PC e um boneco, além de camisetas muito legais. Baraldi nunca teve limites para seus traços. Fez de tudo, ou melhor, desenhou de tudo. Como o mercado de HQs no Brasil não andava bem das pernas, o artista foi encaixando seus quadrinhos em revistas de diversos gêneros como eróticas, infantis, teens, de tatuagem, espírita e roqueiras. A fusão do talento com a sorte foi boa e deu certo.
Ajudante? Nunca teve.
Em uma época da vida, chegou a produzir muitos, mas muitos quadrinhos por mês. Escrevia, roteirizava, desenhava, finalizava, pintava, atendia ao telefone, servia café e tudo mais.
E como diz o ditado “Deus ajuda quem cedo madruga”, Baraldi, hoje, colhe os frutos de seu esforço. Reúne 11 Prêmios Angelo Agostini, a premiação de quadrinhos e cartuns mais antiga e tradicional do Brasil, dois Vladimir Herzog de Direitos Humanos, um punhado de outros prêmios bacanas e mais de 10 mil charges espalhadas pelo mundo. E quando falamos de mundo, é mundo de verdade. Além de todas as revistas nacionais que colabora, Marcio produz charges para revistas em Portugal e Equador.
<- Para a Revista Circuito, criou a Mara Vilhosa. “Geralmente eu crio os personagens já pensando onde serão publicados; procuro fazê-los parecidos com o público da revista”, explica. É rock’and’roll na veia e Baraldi na Circuito! Yeahhhhh!!!!!!
Lembrança boa
Baraldão (como gosta de ser carinhosamente chamado) tem uma história com a imprensa sindical que merece um capítulo a parte. Transformou um jornalzinho de futilidades, chamado Sindiquim, em uma grande arma política para a época, marcada pela vitória da oposição na liderança do Sindicato. Os primeiros personagens foram criados: a Turma dos Químicos. Zé Ácido, Maria Vitamina e Caveirinha ganharam vida para representar os trabalhadores da categoria química e operariado brasileiro em geral. Em uma salinha com uma máquina de escrever, ele pegava os textos do redator e montava, colava, desenhava e fazia os títulos do jornal a mão. Para o cartunista, participar da montagem do departamento de imprensa no Sindicato foi uma das situações mais importantes em sua trajetória profi ssional.
Grandes desafios
Uma das últimas criações de Baraldi foi o livrão lindo e colorido do primeiro personagem rapper dos quadrinhos, chamado Rap Dez. É um rapazinho negro, morador da periferia, dançarino de break, grafi teiro e rapper dos bons que representa à altura o movimento Rap e Hip Hop. Suas histórias são narradas em versos e rimas, numa linguagem 100% rapper. Suas HQs, como não podiam deixar de ser, são politizadas e falam de assuntos que interessam a moçada: política, sexualidade, Aids, ecologia, manipulação da mídia, modismos baratos, violência, reforma agrária, entre outros. Mas isso sempre com muito colorido, bom humor, atitude e discurso jovem. É publicado há cinco anos na Revista Viração.
Curiosidades
Marcio Baraldi já encarou e contagiou os palcos do ABC Paulista. Tocou na banda “Ecos Urbanos“, do ABC, que era de pós-punk, dividiu espaço com o grande quadrinhista underground Marcatti na “Cachorro Magro”, uma banda de blues, e tocou também no “Libertação Radical”, uma das melhores e mais importantes bandas punks do ABC, nos anos 80. Baraldi tocava baixo e compunha. Paralelo a isso, fazia fanzine, grafi tava (inclusive grafite de protesto) e dava cor e vida às suas bandas através dos HQs.

“Tive o privilégio de estar num tempo e lugar em que convivi com gênios do cartum como o saudoso Henfi l e o sempre ativo Laerte. São “ancentrais” do companheiro Baraldi, que continua honrando a herança dessa linhagem de artistas imprescindíveis para a cultura brasileira, verdadeiros retratistas dessa longa caminhada rumo à cidadania plena”.
Marcatti
é quadrinhista uderground mais escato
lógico do Brasil, autor do personagem Frauzio e capista de vários discos dos Ratos de Porão.
“Lembro-me bem, de quando conheci o Marcio em 1987, numa reunião de quadrinhistas no sindicato dos jornalistas de SP. Logo nos juntamos eu, ele, o Bira (e depois o Lourenço Mutarelli e o Glauco Mattoso) pra fazer o que mais gostávamos: gibis undergrounds de nomes como “Pântano” e “Tralha”. E naquela época já se via que o Marcio era o mais agitado e Rock”n”roll de todos nós. Pois não é que , anos depois , ele confi rma sua veia rocker com o divertidíssimo álbum “Roko-Loko e Adrina-Lina”?
Luís Inácio Lula da Silva
(no prefácio do livro Moro num país TropiCAOS)











