Você sabe o significado correto dos ditados populares que vivem em bocas de matildes? Pois é. Aposto como você cresceu falando errado e achando que estava certo e, em alguns casos, até criou um sentido novo no enunciado do ditado para justificar seu entendimento. Duvida? Vamos aos velhos deitados. Ditado número 1: “Hoje é domingo, pé de cachimbo”. Como assim? Pé de cachimbo? Cachimbo dá em árvore? Como seria um pé de cachimbo? O correto é: “Hoje é domingo, pede cachimbo”. Domingo é o dia apropriado para fumar um cachimbo. Cachimbo combina com descanso, relax. E você achando que dava em árvore. Ditado número 2: “Esse menino não para quieto, parece que tem bicho carpinteiro!” Bicho carpinteiro? Mas que bicho é esse que é carpinteiro? Como pode? Um bicho profissional na arte de trabalhar com madeiras? O correto é: “Esse menino não para quieto, parece que tem bicho no corpo inteiro!”. Ufa! Está aí a resposta. E eu que passei a minha infância com o dilema do bicho carpinteiro! Ditado número 3: “Cor de burro quando foge”. Burro, quando foge, muda de cor? De que cor ele fica e por que mudaria de cor na fuga? Oh! Dúvida cruel! O correto é: “Corro de burro quando foge”. Óbvio, o burro, quando foge, fica desembestado e atropela quem está na frente! Correr é a melhor saída. Mas burro mesmo, no caso, sou eu que achava que ele mudava de cor. Que tristeza! Ditado número 4. Diz-se de alguém que é muito parecido com outra pessoa: “Cuspido e escarrado”. Que nojo! Imagine a cena. O que tem a ver? O correto é: “Esculpido em Carrara.” Carrara é um tipo de mármore usado pelos escultores para esculpir uma obra. O sentido é que a pessoa que se parece com alguém foi esculpida igualzinha à sósia. Esclarecido? Ditado número 5: Este é o mais famoso e é batata que você fala errado. “Batatinha, quando nasce, esparrama pelo chão…” Errado. Batata é um caule subterrâneo, ela nasce enterrada e lá permanece, como poderia se espalhar pelo chão? Quem se espalha pelo chão é a folhagem da batata ou a rama, que fica na superfície da terra. Portanto, o correto é: “Batatinha, quando nasce, espalha a rama pelo chão…” Ditado número 6: “São os ossos do ofício”. Esse teve um desdobramento. O correto, no início, era: “São os ócios do ofício”, explicava as férias, licenças remuneradas e outras mordomias do serviço público. Quem trabalha merece descanso. O ócio era a parte boa e merecida do ofício. Com o tempo foi interpretado como “os ossos do ofício”. Ao contrário da origem, explica as dificuldades do trabalho. Prevaleceu a última forma. Pelo menos esse eu acertaria. Ditado número 7: “Quem tem boca vai à Roma”. Fácil de explicar, quem tem iniciativa chega a qualquer lugar, é só ir perguntando, certo? Errado. O correto é: “Quem tem boca vaia Roma”, do verbo vaiar. Os romanos que se cuidem. Ditado número 8: “Quem não tem cão caça com gato”. Este eu entendia mais ou menos assim: Não tem tu, vai tu mesmo. Ocorre que o certo é: “Quem não tem cão caça como gato”. Ou seja, sozinho. Pois o gato caça solitário, diferentemente do cão. O mais engraçado é que, mesmo após saber o significado correto dos ditados, quando vou citá-los uso a forma errada. Parece-me mais familiar, afinal, como diz outro velho deitado: herrar é umano…
Por Marcos Sá, consultor de mídia impressa, com especialização em jornais, na Universidade de Stanford, Califórnia, EUA. Atualmente é diretor de Novos Negócios do Grupo RAC de Campinas.