Fomos para esta grande ilha com o intuito de dar uma volta ao redor dela.
Pensamos que esta viagem teria um “q” romântico e intimista, muito em função da paisagem bucólica que iríamos encontrar por lá. Por isso escolhi a dedo os locais de pernoite. Em geral “BndBs” em locais estratégicos.
E não decepcionou.
Apesar de ser contra a lei e do desafio de dirigir na mão inglesa, tínhamos sempre no carro uma garrafa de vinho, cervejas, queijos e frios. Aqui e alí estacionávamos o carro num desvio, abríamos uma toalha de picnic (uma canga na verdade) e ficávamos bebericando e admirando a paisagem.
A Irlanda do meu imaginário tinha esta cor.

E tem mesmo.
Procuramos ficar sempre próximo ao oceano pois estávamos interessados em encontrar imagens bucólicas e impactantes de falésias, baías, e praias desertas.
Especialmente bonito é o sul da ilha no chamado “Ring of Kerry”, onde éramos basicamente nós nas minúsculas estradas, uma porção de pasto de um verde musgo/esmeralda, e manadas de ovelhinhas que vez ou outra, uma escapava para a estrada nos obrigando a parar o carro e reconduzi-las ao rebanho.

Foi em Killarney onde comi o melhor “Clam chowder” da minha vida, num restaurante à beira da estrada que tocava música brasileira e que quando viram que éramos brasileiros foram especialmente muito receptivos.
Galway na costa oeste é bastante turística; pudera, tem um conjunto de falésias maravilhoso.

Não queria deixar de visitar a Irlanda do Norte para poder sentir o clima político local.
Antes de chegarmos ao nosso BndB passamos pelo “Giant`s Causeway”.
É um conjunto monumental de milhares de colunas prismáticas se assemelhando a um imenso calçadão…para gigantes mesmo.
Muito bonito e como Galway lotado de turistas.

Acabamos nos hospedando junto a uma família numa pequena cidadezinha próxima a Bushmills.
Ao entardecer fomos ao centrinho da cidade para jantar, e no caminho de volta assistimos um desfile de homens vestidos de terno e carregando espadas e bandeiras de cunho nacionalista protestante.
Ficamos impressionados sem entender muito bem o que estava acontecendo.
Na manhã seguinte no café da manhã em conjunto com os proprietários protestantes da pousada e dois outros hóspedes tentamos nos enturmar pedindo explicações do que teria sido aquela manifestação que havíamos visto na noite anterior.
A resposta veio cheia de ódio.
Mostraram-se bastante agressivos quando se referiam ao conflito que estava ocorrendo naqueles dias na cidade próxima de Londonderry, segunda maior cidade da Irlanda do Norte e de maioria católica. O desfile da noite anterior estava relacionado a estes acontecimentos.
Ficamos assustados e desconcertados com o tom da conversa e prontamente nos retiramos da sala.
Este mesmo clima de ódio e separatista encontramos na capital Belfast.
A cidade é austera e em vários bairros vimos muros separando bairros católicos e protestantes. São amplamente grafitados e até fazem parte do roteiro turístico.
Não existe maioria de uma religião ou outra na capital, e o governo tem feito tentativas de misturar as duas comunidades, mas sem sucesso.
Vivemos num mundo tribal.
Cada um defendendo seu território e sua tribo do risco de aniquilamento. Esta é a triste constatação…
Quando pensamos em tribos logo nos remetemos à África ou países do Oriente Médio ou Ásia.
Nunca na Europa…afinal somos o “ocidente civilizado”…
Ledo engano…somos tribais sim e nem consigo ver a médio ou longo prazo uma evolução da espécie humana para um bem comum…
Enquanto isto, vamos falar de coisas boas; vamos viajar e capturar características peculiares de cada povo que possam acrescentar à humanidade como um todo para que, quem sabe no futuro, o cenário possa ser outro.

Ah !! Amei Dublin…acho que dei sorte de pegar dias claros e ensolarados. Muita gente pelas ruas. Nas principal rua de comércio demonstração do sapateado irlandês que é quase tão envolvente quanto uma bateria de escola de samba.
E ouve-se o português a cada esquina. Uma orda de brasileiros trabalham e estudam por lá. Também pudera, o irlandês é bastante receptivo e afável.
Frequentamos vários “pubs” ao longo dos dias, experimentando as diferentes cervejas, o que acrescentou mais ainda ao clima intimista que estávamos procurando.
Exceção feita a experiência que tivemos na Irlanda do Norte que não foi nada intimista mas bastante profunda e impactante.
Debora Patlajan Marcolin, médica, 62 anos, muito curiosa com relação a diversidade cultural do nosso planeta. Viajo desde que me conheço por gente e tudo me atrai. Desde a minha vizinhança pobre de Carapicuiba até as cerimonias fúnebres de Tana Toraja na Indonésia, passando por paraísos naturais como o pantanal mato-grossense e deserto do Jalapão. Já conheci por volta de 75 países e não paro de projetar novos destinos. Entendo que para se viajar é preciso estar de peito aberto e abandonar todo tipo de preconcepção, que com certeza, a viagem vai te provocar profundas mudanças internas e gosto pela vida. Autora do blog A Minha Viagem.